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Foto do escritorHenrique Santos Filho

CRISTIANISMO Séculos III e IV

A RELAÇÃO DO IMPERADOR TRAJANO COM OS CRITÃOS


Trajano odiava o cristianismo; Plínio, um de seus governadores enviou uma carta falando sobre como via os cristãos:


"Todo o crime ou erro dos cristãos se resume nisto: têm por costume reunirem-se num certo dia, antes do romper da aurora, e cantarem junto um hino a Cristo, como se fosse um deus, e se ligarem por um juramento de não cometerem qualquer iniquidade, de não serem culpados de roubo ou adultério, de nunca desmentirem a sua palavra, nem negarem qualquer penhor que lhes fosse confiado, quando fossem chamados a restituí-lo. Depois disto feito, costumam separar-se e em seguida reunirem-se de novo, para uma refeição simples da qual partilham em comum, sem a menor desordem, mas deixaram esta ultima pratica após a publicação do edital em que eu proibia as reuniões, segundo as ordens que recebi. Depois destas informações julguei muito necessário examinar, mesmo por meio da tortura, duas mulheres que diziam serem diaconisas, mas nada descobri a não ser uma superstição má e excessiva.

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HERESIAS E CONFUSÕES

Discussão quanto à volta de Cristo; Uma mesma fé unia as congregações esparsas: Cristo, o filho de Deus, voltaria a terra para estabelecer seu Reino, e todos os crentes seriam no Juízo Final recompensados com a Bem-Aventurança eterna. Mas os cristãos divergiam quanto à data do Segundo Advento.

Quando Nero morreu, depois quando Tito arrasou o Templo e mais tarde quando Adriano destruiu Jerusalém, muitos cristãos encararam essas calamidades como sinais do Segundo Advento.

Quando nos fins do século II o caos ameaçou o Império, Tertuliano e outros julgaram chegado o fim do mundo; um bispo sírio levou seu rebanho para o deserto a fim de receber Cristo no meio do caminho, e um bispo do Ponto desorganizou a vida da comunidade com o anúncio da volta de Jesus dentro de um ano).

Como todos os sinais falhassem e Cristo não aparecesse, os cristãos de maior descortino procuraram atender ao desapontamento com uma nova interpretação da data da Vinda.

Ele viria, sim, mas dali a mil anos, dizia uma epistola atribuída a Barnabé; ele viria, declaravam os mais cautelosos, quando a "geração" ou raça dos judeus já se achasse totalmente extinta, ou depois que o Evangelho tivesse sido pregado a todos os gentios; ou ele mandaria em seu lugar o Espírito Santo, o Paráclito, como anunciara o Evangelho de João.


O Montanismo

Enquanto as seitas gnósticas e marcionita espalhavam-se pelo Oriente e Ocidente, novo heresiarca apareceu em Misia. Montano denunciou a crescente mundanidade dos cristãos e a autocracia cada vez maior dos bispos na Igreja; pediu o retorno à primitiva simplicidade e austeridade e restaurou para os membros das congregações o direito de profetizar.

Duas mulheres, Priscila e Maximila, caíram em transe - e o que disseram tornou-se o oráculo da seita.

O próprio Montano profetizou com tanta eloquência que seus seguidores frígios - no mesmo entusiasmo religioso que anteriormente havia gerado Dioniso - deram-no como o Paráclito prometido por Cristo.

Anunciou Montano que o Reino do Céu estava à mão e que a Nova Jerusalém do Apocalipse breve desceria do céu sobre uma planície vizinha.

Para essa planície Ievou tanta gente que algumas cidades se despovoaram.

A Igreja baniu o montanismo como heresia, e no século VI Justiniano ordenou a extinção da seita. Muitos adeptos se fecharam em suas igrejas e incendiaram-nas, morrendo queimados.”.


Outras Seitas

E não havia fim para as heresias menores. Os Encratitas abstinham-se de carne, vinho e sexo; os Abstinentes praticavam a auto mortificação e condenavam o casamento como pecado; os Docetistas ensinavam a ver o corpo de Cristo como astralidade, não como carne humana; os Teodotianos consideravam-no apenas um homem; os Adopcionistas e os seguidores de Paulo de Samosata sustentavam que ele nascera homem, mas alçara-se a divindade por meio da perfeição moral; os Modalistas, os Sabelianos e os Monarquianos reconheciam uma só pessoa no Pai e no Filho, os Monofisitas uma só natureza, os Monotelistas uma só vontade.

A Igreja dominou-as graças a sua superior organização, a sua tenacidade doutrinal e melhor compreensão da psicologia e das necessidades dos homens.


ORÍGENES: O MAIS CULTO DE SUA ÉPOCA

Orígenes nasceu em um lar cristão; seu pai foi preso e morto pelos Romanos em uma perseguição á igreja;

Orígenes era considerado por todos, cristãos ou não, como o maior intelectual de sua época; Ele castrou a si mesmo: Orígenes, o Casto;

Aos 18 anos de idade já ensinava nas escolas cristãs da época. Mas perdeu-se para a cultura Grega;

Ao aceitar os ensinamentos da filosofia grega, Origenes adotou muitas ideias platônicas, estranhas ao cristianismo ortodoxo. A maioria de seus erros era causada pela pressuposição grega de que a matéria e o mundo material são intrinsecamente maus.

Acreditava na existência da alma antes do nascimento e ensinava que a posição de alguém no mundo era consequência de sua conduta num estado preexistente. Negava a ressurreição física e advogava que, no final de tudo, Deus salvaria todos os homens e todos os anjos.

Foi excomungado pelo Bispo de Alexandria, que chamou um concílio a fim de discutir as ideias que ele vinha pregando; Morre após ser torturado pelos Romanos (251 d.C.);


O CONCÍLIO DE CARTAGO (EPISCOPADO E MISSA)

Em meio a tantas divisões, seitas, falsos profetas, heresias, etc. Cipriano escreve UNIDADE DA IGREJA;

Cipriano havia nascido rico e pagão, porém se converte ao cristianismo, abandonando todas as práticas anteriores e doando tudo o que tem aos pobres;

Apesar de não ser teólogo, torna-se bispo de Cartago em 248 d.C.;

Neste concílio ele lê sua obra UNIDADE DA IGREJA; buscou unir os cristãos através do poder dados aos Bispos;

Segundo Curtis: (historiador) “O indivíduo não poderia viver a vida crista em contato direto com Deus; ele precisava da igreja”. Uma vez que Cristo estabelecera a igreja sob autoridade de Pedro, a Pedra, Sipriano disse que todos os bispos eram, em certo sentido, sucessores de Pedro, portanto, deveriam ser. obedecidos. Embora não declarasse que o bispo de Roma estava acima dos outros, Cipriano via o episcopado como especial em razão da conexão de Pedro aquela cidade. Instituiu poderes Sacerdotais aos Bispos;

“Cipriano deixou implícito que o Espírito Santo trabalhava por meio dos bispos. Os bispos, naturalmente, ganharam poder com a disseminação dessas ideias. Cipriano também promoveu a ideia de que a missa era o sacrifício do sangue e do corpo de Cristo. Uma vez que os sacerdotes agiam como representantes de Cristo, oferecendo novamente o sacrifício em todos os cultos de adoração, isso somente serviu para lhes aumentar o poder.”


ANTÃO TORNA-SE EREMITA (INÍCIO DOS MONASTÉRIOS)

Crescia a imoralidade e o corrompimento no meio da igreja; Antão decide viver isolado em uma casa; Lá ele dormia no chão;

Alimentava-se apenas uma vez por dia, numa dieta de pão e água; Ele era visto como um guerreiro espiritual, que lutava contra demônios e que largou tudo e abnegou-se totalmente; Com seu exemplo não tardaram a surgir comunidades de monges. - Pacôncio, jovem amigo de Antão veio a montar a primeira comunidade de monges.


A DECADÊNCIA ESPIRITUAL

Após a morte de Aureliano a Igreja teve 28 anos de paz.

Esta situação levou muitos crentes a terem vergonha da fé ou se aproveitarem dela.

Crescia a soberba e a ambição; Os cultos simples começavam a ser substituídos por rituais complexos;

Alguns bispos ao invés de cuidar do seu rebanho começavam a cuidar da acumulação de riquezas, criava-se um grande ‘ordem sacerdotal’, surgia a ”classe do clero”.

Alguns pagãos diziam: “Façam-me bispo de Roma, que eu logo me tornarei cristão”.

Ocorriam discussões ferrenhas entre bispos e presbíteros, pois ambos lutavam para decidir qual cargo era mais importante, pois no princípio ambos dispunham de igualdade;

Durante as perseguições de Diocleciano e Galério muitos cristãos e bispos, diante da eminente morte negavam sua fé fazendo oferendas ao gênio do imperador.


SÉCULO IV


A IGREJA E O ESTADO ROMANO

Roma era um império com apenas uma moeda; um sistema político e uma religião.

Em 284 Diocleciano começa reformas no Império.

Em 298 Cristãos são expulsos do exército e do serviço público;

Em 303 inicia-se um período de grandes perseguições aos cristãos, pelas mãos do imperador Galério destroem-se as igrejas, confiscam-se as escrituras, proíbem-se as reuniões.

Galério, padecendo de uma enfermidade mortal, poucos dias antes da sua morte pediu as orações dos cristãos e, no dia 30 de abril de 311, assinou O Édito de Tolerância.

Agora, pela primeira vez, a Igreja Cristã estava amparada por lei.

A partir deste momento o Estado mostrava-se indulgente, condescendente para com os adeptos do cristianismo.


Detalhe: A morte dos perseguidores:

Suicidaram-se: NERO, DIOCLECIANO, MAXIMILIANO.

Assassinados: DOMINICIANO, COMODO, MAXIMÍNIO, AURELIANO.

Em agonia procurando a morte: ADRIANO.

Escravo, com os olhos furados: VALERIANO.

Comido por abutres: DÉCIO.

Doença desconhecida, o corpo foi tomado de vermes: GALÉRIO.


A CONVERSÃO DE CONSTANTINO

Segundo o relato da história, o general Constantino olhou para o céu e viu urna sinal, uma cruz brilhante, nela podia ler: Com isto vencerás.

O supersticioso soldado já estava começando a rejeitar as divindades romanas a favor de um único Deus. Seu pai adorava o supremo deus Sol.

Seria um bom pressagio daquele Deus na véspera da batalha?

Mais tarde, Cristo teria aparecido a Constantino em um sonho, segurando o mesmo sinal (uma cruz inc1inada), lembrando as letras gregas ch i (X) e rho (p), as duas primeiras letras da palavra Christos.

O general foi instruído a colocar esse sinal nos escudos de seus soldados, o que fez prontamente, da forma exata como fora ordenado.

Conforme prometido, Constantino venceu a batalha.

Esse foi um dos diversos momentos marcantes do século IV, um período de violentas mudanças.

Se você tivesse saído de Roma no ano 305 d.C. para viver anos no deserto, quando voltasse certamente esperaria encontrar o cristianismo morto ou enfrentando as últimas ondas de perseguição.

Em vez disso, o cristianismo se tornou a religião patrocinada pelo império.


O TRIÚNFO DO CRISTIANISMO

A que se deve a rápida expansão do cristianismo?

Entre as varias causas, uma merece destaque.

Trata-se do testemunho pessoal dos cristãos.

Cada cristão era um missionário. Uma vez convertido, procurava levar outros a fé cristã.

Este testemunho, corpo a corpo, fez com que de Jerusalém o cristianismo se irradiasse progressivamente pelas principais cidades do Império Romano, como por exemplo, Antioquia da Síria, Alexandria (Egito), Éfeso (Ásia Menor), Corinto (Grécia) e Roma (Itália). O cristianismo, apesar de ser perseguido, era irreversível.

O Imperador Galério, ferrenho adversário do cristianismo e que promoveu a última grande perseguição, finalmente teve que admitir que fosse impossível extinguir o cristianismo.


HISTÓRIA DA IGREJA PÓS-LEGALIZAÇÃO ROMANA

Esta conversão foi verdadeira?

Seria sincera tal conversão, um ato de fé religiosa, ou um golpe de habilidade política?

Esta hipótese é a mais aceitável. Helena, sua mãe voltara-se para o cristianismo quando Constâncio a abandonou; e presumivelmente instruíra o filho nas excelências do caminho cristão; e Constantino também havia de ter-se impressionado com a sucessão de suas vitórias sob a bandeira de Cristo.

Mas só um céptico teria feito um tão sutil uso dos sentimentos religiosos da humanidade.

A Historia Augusta atribui-lhe esta frase: “É Fortuna quem faz um homem imperador” - embora haja aqui mais um rapapé à modéstia do que à sorte.

Em sua corte gaulesa vivia ele rodeado de filósofos e sábios pagãos.

Depois de convertido raramente se conformou com as exigências da adoração cristã.

Suas cartas aos bispos mostram como pouco lhes interessava as diferenças teológicas em curso - embora desejasse suprimir as dissensões no interesse da unidade imperial.

Durante seu reinado tratou os bispos como auxiliares políticos; convocava-os, presidia-lhes os conselhos e punha em vigor o que o conclave formulava.

Um verdadeiro crente teria sido antes de tudo cristão e só depois estadista. Constantino foi o contrario.

O cristianismo significava para ele um meio, não um fim.


A atuação de Constantino:

Mas em um mundo preponderantemente pagão cumpria-lhe ser cauteloso. Constantino continuou a usar uma vaga linguagem monoteísta que qualquer pagão aceitaria.

Durante os primeiros anos prestou-se pacientemente ao cerimonial dele exigido como ponteie maximus do culto tradicional; restaurou templos pagãos, fez que fossem tomados auspícios.

Na dedicação de Constantinopla recorreu aos ritos cristãos como aos pagãos. Para proteger colheitas e curar doenças, empregava formas mágicas do paganismo.

Modificações na realidade de Roma e da Igreja durante o governo de Constantino, aos poucos os símbolos pagãos iam saindo das moedas, Bispos assumem poderio de juiz local;

Isenção de impostos às Igrejas;

Legalização Jurídica das Igrejas e com isto direito de posse;

Direito das Igrejas assumirem os bens dos mártires sem que haja testamento destes;

Construção de muitas Igrejas com dinheiro público;

Proibição do culto às imagens na recém-fundada Constantinopla;

Início da caça empregada pelo Estado às seitas ditas cristãs;

O imperador tornou-se juiz de todas as contendas internas da Igreja.

Os cristãos rejubilavam com tamanha mudança na realidade do Império.

Porém algumas preocupações começavam a tomar o sossego dos líderes cristãos.

Dentre elas as maiores: o monasterismo, o donatismo e o arianismo.


O MONASTERISMO:

Sob influência da vida ascética de Antão os grupos de monges começaram a crescer, devido ao medo destes cristãos de tomarem parte da devassidão de começava a imperar em muitos espaços até da Igreja.

Estes mosteiros quase queriam estar sob a bênção da Igreja, porém quase formavam um poder paralelo.

Por fim, os bispos acabaram por aceita-los e até apoiar sua organização, tratava-se de uma forma da Igreja compensar seu envolvimento cada vez maior com as questões de poder.


O DONATISMO

Um ano depois da conversão de Constantino foi a Igreja vítima de uma cisão que quase a arruína na hora do triunfo.

Donato, bispo de Cartago, assistido por um padre do mesmo temperamento, insistia em que os bispos cristãos que durante as perseguições se tinham submetido, política pagã não podiam continuar como bispos; que os batismos e mais atos de tais bispos eram írritos e nulos; e que a validade dos sacramentos dependia em parte do estado espírito do ministrante.

Quando a Igreja se recusou a adotar este rigoroso critério, os donatistas nomearam bispos rivais para as cidades em que os existiam do tipo condenado.

Constantino, sempre pensando no novo credo como instrumento de unificação, impressionou-se com o caos iminente e a possível aliança dos donatistas com movimentos radicais entre os camponeses africanos.

Reuniu um concílio de bispos em Arles (314), confirmou a condenação episcopal dos donolitas, ordenou aos dissidentes que reentrassem na igreja e acenou aos recalcitrantes com a perda dos direitos civis e das propriedades (316).

Cinco anos depois, em um momentâneo retorno: Edito de Milão, iria ele revogar essas medidas e conceder aos donatistas uma condicente tolerância.

O cisma de Donato persistiu até ao tempo em que os sarracenos varreram com os cristãos do norte da África.”.


O ARIANISMO

Embora Tertuliano tivesse outorgado à igreja a ideia de que Deus é uma única substância e três pessoas, de maneira alguma isso serviu para que o mundo tivesse compreensão adequada da Trindade: O fato é que essa doutrina confundia até os maiores teólogos. Logo no início do século IV, Ário, pastor de Alexandria, no Egito, afirmava ser cristão, porém, também aceitava a teologia grega, que ensinava que Deus é um só e não pode ser conhecido. De acordo com esse pensamento, Deus é tão radicalmente singular que não pode partilhar sua substância com qualquer outra coisa: somente Deus pode ser Deus. Na obra intitulada Thalia, Ário proclamou que Jesus era divino, mas não era Deus. De acordo com Ário, somente Deus, o Pai, poderia ser imortal, de modo que o Filho era, necessariamente, um ser criado. Ele era como o Pai, mas não era verdadeiramente Deus.

Muitos ex-pagãos se sentiam confortáveis com a opinião de Ário, pois, assim, podiam preservar a ideia familiar do Deus que não podia ser conhecido e podiam ver Jesus como um tipo de super-herói divino, não muito diferente dos heróis humanos divinos da mitologia grega.

Por ser um eloquente pregador, Ário sabia extrair o máximo de sua capacidade de persuasão e até mesmo chegou a colocar algumas de suas ideias em canções populares, que o povo costumava cantar.

Por que alguém faria tanto estardalhaço com relação às ideias de Ário?

Muitas pessoas ponderavam. Porém, Alexandre, bispo de Ário, entendia que para que Jesus pudesse salvar a humanidade pecaminosa, ele precisava ser verdadeiramente Deus.

Alexandre conseguiu que Ário fosse condenado por um sínodo, mas esse pastor, muito popular, tinha muitos adeptos. Logo surgiram vários distúrbios em Alexandria devido a essa melindrosa disputa teológica, e outros clérigos começaram a se posicionar em favor de Ário.

Em função desses distúrbios, o imperador Constantino não podia se dar ao luxo de ver o episódio simplesmente como uma "questão religiosa".

Essa "questão religiosa" ameaçava a segurança de seu império.

Assim, para lidar com o problema, Constantino convocou um concílio que abrangia todo o império, a ser realizado na cidade de Nicéia, na Ásia Menor.



O CONCÍLIO DE NICÉIA


A primeira destas Assembleias reuniu-se em Nicéia, na Bitínia, para o julgamento de um tal Ario, que tinha estado a ensinar que nosso Senhor fora criado por Deus como qualquer outro ser, sujeito ao pecado e ao erro, e que, por consequência, não seria eterno como o Pai.

Foi a isso que Constantino chamou uma ninharia, quando o informaram da heresia; o concílio, porém, com poucas exceções, deu-lhe o nome de horrível blasfêmia. Os bispos sentiram tanto a indignidade que Ario fizera pesar sobre o bendito Senhor, que tapavam os ouvidos enquanto ele explicava as suas doutrinas, e declararam que, quem expunha tais ensinamentos, era digno de anátema.

Como repressão às heresias crescentes foi escrito a célebre confissão de fé, conhecida como o Credo de Nicéia, no qual está clara e inteiramente anunciada a doutrina das Escrituras Sagradas com referência à divindade do Senhor.

Ário e seus adeptos receberam ao mesmo tempo sentença de desterro, e possuir ou fazer circular os seus escritos era considerado como grande ofensa.


A Igreja e o Estado no Concílio:

O Concílio de Nicéia foi convocado tanto para estabelecer uma questão teológica quanto para servir de precedente para questões da igreja e do Estado.

A sabedoria coletiva dos bispos foi consultada nos anos que se seguiram, quando questões espinhosas surgiram na igreja.

Constantino deu início à prática de unir o império e a igreja no processo decisório.

Muitas consequências perniciosas seriam caídas nos séculos futuros dessa união.

Porém a irmã de Constantino era do partido de Ário e pediu que seu irmão revogasse a decisão e assim foi feito.



ATANÁSIO TORNA-SE BISPO DE ALEXANDRIA

Foi forte combatente do arianismo.

Um mandato imperial de Constantino para que os hereges excomungados fossem admitidos à igreja, foi recebido pelo bispo com um desprezo deliberado e firme: não queria submeter-se a qualquer autoridade que procurasse pôr de parte a divindade do seu Senhor e Salvador.

Contudo, os seus inimigos estavam resolvidos a levar por diante os seus propósitos e aquilo que não puderam obter por bons meios tentaram alcançar por meios infames.

Fizeram uma acusação horrível contra o bispo, no sentido de ter ele causado a morte de um bispo miletino chamado Arsino, de cuja mão, diziam eles; se serviu para fins de feitiçaria.

Foi, por consequência, intimado a responder perante uni concílio em Gesaréia, pela dupla acusação de feitiçaria e assassínio: mas Atanásio recusou-se a comparecer ali por ser o tribunal composto de inimigos.

Foi, pois convocado outro concílio em Tiro, e a este assistiu o bispo.

A mão que devia ter servido para prova do crime apareceu no tribunal, mas infelizmente para os acusadores o dono da mão, o bispo assassinado, também lá estava vivo e ileso! .

Ainda assim, esta farsa não impôs aos seus adversários o silêncio que a vergonha devia produzir, e apressaram-se em preparar uma nova acusação.

Afirmaram que Atanásio ameaçava reprimir a exportação de trigo de Alexandria para Constantinopla, o que traria a fome para esta cidade, pensando eles, e com razão, que bastava só atribuir-lhe este mau procedimento para levantar a inveja e desagrado do imperador, cujos maiores interesses estavam ali concentrados.

Os seus planos tiveram bom êxito. Com esta simples acusação, pois a verdade dela nunca foi provada, obtiveram uma sentença de desterro, e Atanásio foi mandado para Treves, no Reno, onde se conservou dois anos e quatro meses.

Mas o desterro do bispo fiel não assegurou os resultados pelos quais o partido de Ário estava a combater.

Os Cristãos de Alexandria também tinham sido muito bem instruídos nas verdades das Escrituras Sagradas, e conservavam-nas com tal amor, que não as abandonaram depois do seu ensinador partir.

Não queriam ligar-se a compromisso algum e até mesmo quando Ario subscreveu uma fé ortodoxa, o novo bispo, um velho servo de Deus chamado Alexandre, duvidou da sua sinceridade, e não quis aceitar a sua retratação. Constantino teve de intervir novamente neste caso, e mandando chamar o bispo, insistiu para que Ário fosse recebido em comunhão no dia seguinte.

Muitos viram nisto uma crise nos negócios da igreja, e os cristãos de Alexandria esperavam pelo resultado com muita ansiedade.

Alexandre sentiu a sua fraqueza, e pensamentos inquietadores lhe assaltaram o espírito; entrou na igreja e apresentou o seu caso diante do Senhor.

A oração era o seu último recurso, mas não foi um recurso vão nem estéril.

Os arianos já exultavam, e enquanto o bispo estava de joelhos diante do altar levaram eles o seu chefe em triunfo pelas ruas. De repente cessaram as ovações.

Ário entrara em uma casa particular e ninguém parecia saber para quê.

Todos esperavam, e se admiravam, mas esperavam em vão; o homem, cujo regresso aguardavam, tinha-se retirado dos seus olhares para nunca mais aparecer. Teve a mesma sorte de Judas, e o grande herético estava morto.


A morte de Ário

Era um sábado e Ário esperava poder ir à reunião da congregação no dia seguinte, porém a Divina Providência o puniu por sua ousadia criminosa, pois, ao sair do palácio imperial ... e ao aproximar-se do pilar de pórfiro, no Foro de Constantino, foi tomado de terror e logo sentiu relaxarem-se-lhe violentamente os intestinos.

Inchou-lhe o ventre, seguindo-se às evacuações abundante hemorragia e a queda do intestino delgado; além disso, pedaços do fígado e do baço eram eliminados naquela perda de sangue, tendo assim morre quase imediata.


Primeiro Cânon completo do Novo Testamento

Atanásio também foi Compositor do primeiro Cânon bíblico completo.

Veja abaixo algumas características que foram escolhidas como critério para a escolha destes livros:

1- Ter sido escrito por algum apóstolo (testemunha direta da obra de Cristo). Neste aspecto, Paulo de Tarso foi aceito como apóstolo, pois viu a Cristo.

2- Não possuir contradição com a maioria dos textos escritos;

Ser amplamente aceito e já haver tradição antiga de leitura do mesmo, fato que é provado pelas citações dos livros em textos da Igreja primitiva, atestando sua autenticidade;

3- Servir para edificação da Igreja, que seria a prova de sua inspiração.


Em 367, Atanásio, o bispo de Alexandria, influente e altamente ortodoxo, escreveu sua famosa carta oriental.

Nesse documento, enumerava os 27 livros que hoje fazem parte do nosso Novo Testamento.

Na esperança de impedir que seu rebanho caminhasse rumo ao erro, Atanásio afirmou que nenhum outro livro poderia ser considerado escritura cristã, embora admitisse que alguns, como (...), pudessem ser úteis para devoções particulares.

A lista de Atanásio não encerrou esse assunto. Em 397, o Concílio de Cartago confirmou sua lista. (..) No final, a lista de Atanásio recebeu a aceitação geral e, desde então, as igrejas por todo o mundo jamais se desviaram de sua sabedoria.


A MORTE DE CONTANTINO

Constantino morreu com 64 anos de idade; tinha 2 esposas e muitas brigas familiares e intrigas;

Seu filho mais velho foi assassinado por parte do tio e ele manda matar o sobrinho e a esposa

Dois anos mais tarde, pela Páscoa, iria ele celebrar com grandes festas o 30º aniversário da ascensão ao poder.

Depois, sentindo a proximidade do fim, foi provar os banhos quentes de uma estação próxima, Aquírion.

Como a doença se agravasse, chamou um sacerdote para lhe administrar o sacramento do batismo, que muito deliberadamente diferira ate aquele momento, na esperança de por esse modo limpar-se de todos os pecados de sua vida tão cheia.

Em seguida, o cansado imperador, aos 64 anos, despiu-se (...), envergou o traje branco dos neófitos e cerrou os olhos.


A divisão do Império:

O império estava agora dividido entre os três filhos de Constantino, o Grande, ficando Constantino com a Gália, Espanha e a Bretanha; Constâncio com as províncias asiáticas, e Constante, com a Itália e a África.

Constantino favoreceu o partido católico ou ortodoxo, e fez voltar Atanásio do exílio, mas foi morto no ano 340, quando invadia a Itália.

Constante, que tomou posse dos seus domínios, também seguia a causa dos católicos e foi amigo de Atanásio, porém Constâncio e toda a sua corte tomaram o partido dos arianos.


Constante X Constâncio:

Entretanto, Atanásio foi novamente degredado, pelos esforços de Constâncio e dos bispos arianos; e Gregório de Capadócia, homem de caráter violento, foi colocado à força no seu lugar.

Este procedimento iníquo deu ocasião a desordens e a cenas violentas, e tiveram de pedir auxílio à tropa para manter o bispo intruso na colocação que lhe tinham dado.

Foram depois convocados muitos e vários concílios, e publicados cinco credos diferentes, em outros tantos anos, mas parece que com pouco resultado.

Em todos estes concílios foi sempre confirmado a ortodoxia de Atanásio, porém não fizeram justiça ao velho bispo enquanto Gregório viveu.

Mas depois da morte deste foi reintegrado no seu lugar com grande alegria de todos aqueles que apreciavam a verdade e se agarravam à boa doutrina.

Constante, que desde o princípio se tinha mostrado um verdadeiro amigo de Atanásio, morreu no ano 359, e os arianos, com a proteção de Constâncio renovaram as suas perseguições.

Tendo sido expulso pela terceira vez do seu lugar; Atanásio retirou-se voluntariamente para o exílio, e entrou, durante algum tempo, num refúgio dos desertos do Egito, onde pela meditação e oração se preparou para posterior conflito.

E, aqueles que professavam as suas doutrinas eram perseguidos com rigor devido à ascendência dos arianos.

Por isso se dizia por toda a parte que os tempos de Nero e Dioc1eciano tinham voltado.

Constâncio morreu no ano de 36l, e teve por sucessor Juliano, que tomou a chamar os bispos desterrados por Constâncio; mas não foi de certo por simpatia pelas suas doutrinas, porque ele pouco depois caiu no paganismo(..).


JULIANO, O APÓSTOTA É IMPERADOR

Em meio a todas estas atividades governamentais, era a filosofia a paixão que o dominava.

Tinha um objetivo, do qual jamais se esquecia: a restauração dos antigos cultos.

Ordenou que se reparassem e abrissem os templos pagãos e se restituíssem as propriedades que deles haviam sido confiscadas.

Autorizou também que os templos recomeçassem a recolher suas rendas habituais. Escreveu cartas aos principais filósofos da época, convidando-os a se hospedarem na corte.

Quando Máximo chegou, Juliano interrompeu um discurso que estava fazendo no Senado e correu para cumprimentar o velho mestre, que apresentou a todos, tecendo-lhe grandes 'elogios.

Máximo aproveitou-se do entusiasmo do imperador. Envergou trajes muito finos e levou uma vida luxuosa, o que provocou, depois da morte de Juliano, uma rigorosa devassa em sua vida para se descobrir a origem de sua rápida fortuna.

Juliano não dava atenção àquelas contradições; amava demasiada a filosofia para dela se afastar por causa da conduta dos filósofos.

"Se alguém" escreveu ele a Eumênio, “vos tiver persuadido de que existe para a raça humana algo mais proveitoso do que o estudo ininterrupto da filosofia nas horas vagas, esse alguém não passa de um iludido que procura iludir”.


Reconstrução dos templos pagãos;

Das aflições os judeus foram salvos durante um momento pela ascensão de Juliano, este reduziu as taxas, revogou leis de separação, louvou a caridade hebraica e tratou YHWH (Yahveh) como "um grande deus".

Perguntou aos dirigentes judeus por que haviam abandonado o sacrifício de animais; quando eles responderam que sua lei não permitia tal ato senão no templo de Jerusalém, ordenou que este fosse reconstruído com fundos do Estado.

Jerusalém foi novamente franqueada aos judeus; desse reuniam ali, procedentes de todos os cantos da Palestina, de todas as províncias do Império; homens, mulheres e crianças davam o seu trabalho à reconstrução, suas economias e joias para mobiliar o novo templo.

Já podemos imaginar a felicidade de um povo que durante três séculos havia orado por esse dia.

Mas quando os alicerces estavam sendo cavados, irromperam chamas do chão e vários trabalhadores morreram queimados.

O trabalho foi pacientemente reiniciado, mas uma repetição do fenômeno - provavelmente devido à explosão do gás natural - interrompeu e, desanimou o empreendimento.

Os Cristãos rejubilaram-se ante aquilo que parecia uma proibição divina; os judeus ficaram espantados e lastimaram-no. E então ocorreu a morte súbita de Juliano.

Os fundos estatais foram suspensos; as velhas leis restritivas postas em vigor e tornadas mais severas. E os judeus, de novo excluídos de Jerusalém, voltaram a suas aldeias, a sua pobreza e a suas preces.

Logo depois Jerolmo relatava que a população judaica da Palestina "não passava de um décimo da anterior". Em 425, Teodósio II aboliu o patriarcado da Palestina. Igrejas greco-cristãs substituíram as sinagogas e escolas.

Aqui houve o fim do subsídio público à Igreja;

Fim de toda forma de intervenção em questões internas da Igreja;

Fim da Isenção de impostos e regalias especiais aos cristãos e bispos;

Cristãos são obrigados a devolver bens tomados dos pagãos;

A apaixonada perseverança de Juliano acabou destruindo finalmente seu programa.

Os homens aos quais injuriara combatiam-no com “sutil pertinácia e os demais, aos quais favorecia, respondiam com indiferença”. O paganismo morrera espiritualmente, já não encerrava em si qualquer estímulo para a mocidade, nem consolo para as amarguras, nem esperanças para além-túmulo.

Alguns que se haviam convertido voltou-se para ele, mais com a ideia de conseguirem posições políticas ou o seu dinheiro.

Algumas cidades restabeleceram os sacrifícios oficiais, mas somente para pagarem os favores recebidos.

Mesmo em Pessino; a terra de Cibele, Juliano teve de subornar os habitantes para que honrassem a grande deusa.

Muitos pagãos interpretavam o paganismo como sendo uma consciência tranquila em meio aos divertimentos. Ficaram desapontados ao ver que Juliano era mais puritano que Cristo.

Esse suposto livre-pensador era o mais devoto do Estado e até seus amigos se aborreciam em seguir-lhe as práticas; havia também os cépticos que não dissimulavam seu sorriso ao vê-lo às voltas com seus deuses antigos e sacrifícios.

Já quase não se observava mais no Oriente altares, assim como no Ocidente, fora da Itália. Morreu em 363.

Juliano jazia em sua tenda e dirigiu-se desconsolada e amarguradamente a seus companheiros: "Mui oportunamente, meus amigos, chegou agora a ocasião para eu deixar esta vida, a qual folgo poder devolver à natureza”.

Todos os presentes choraram.

Ele, entretanto, mantendo sua autoridade, os censurou dizendo que não lhes ficava bem lamentar um príncipe que estava sendo chamado a unir-se ao céu e às estrelas.

Como isso os tivesse feito calar-se, virou-se para os filósofos Máximo e Prisco e travou com eles uma discussão muito complexa sobre a nobreza da alma. Subitamente a ferida se lhe abriu, a pressão do sangue diminuiu-lhe a respiração e, após beber um gole de água que pedira, morreu tranquilamente.

Contava então 32 anos de idade. A história de que Juliano morrera exclamando: "Tu triunfaste, galileu" apareceu primeiramente no trabalho do historiador cristão Teodoreto, no século V, sendo agora, porém, considerada como lenda.


OS JUDEUS NESTE PERÍODO

Em todas as épocas, a alma do judeu tem estado dividida entre a resolução de abrir caminho em um mundo hostil e sua fome pelos alimentos espirituais.

O mercador judeu é um estudioso triste; inveja e honra generosamente o homem que, fugindo à febre da riqueza, prossegue em paz no amor aos estudos e segue a miragem da sabedoria.

Os comerciantes e banqueiros judeus que iam à feira de Troyes paravam no caminho para ouvir o grande Rashi explicar o Talmude. Assim, entre os afazeres comerciais ou a pobreza degradante ou a contumélia mortal, os judeus da Idade Média continuaram a produzir gramáticos, teólogos, místicos, poetas, cientistas e filósofos; e durante certo tempo (1150-1200) somente os muçulmanos os igualavam na ampla alfabetização e riqueza intelectual.

Tinham a vantagem de viver em contato ou comunicação com o Islã; muitos deles liam o árabe; todo o rico mundo da cultura muçulmana medieval estava aberto aos judeus. Receberam do Islã em ciência, medicina e filosofia o que haviam dado em religião a Maomé e ao Alcorão.

E, pela meditação, elevaram o espírito do Ocidente cristão com o estímulo do pensamento sarraceno.


JOVIANO ASSUME O IMPÉRIO:

Ao que parece, foi o primeiro governante realmente cristão; Teve um reinado curto, de apenas 8 meses; Apoiou os ortodoxos contra os arianos.

Em 364 seus filhos Valenciano e Valente assumem o poder, mas apoiam o arianismo.


GRACIANO ASSUME O TRONO E O PASSA A TEODÓSIO

Tinha apenas 16 anos de idade era cristão temente a Deus;

Porém passa o poder imperial a Teodósio, pois não se sentia capaz de administrar tudo; Ocorre um distúrbio em Tessalônica e Teodósio gera um grande genocídio (circo).

Mais tarde, Ambrósio enfrentou um imperador - dessa vez, o próprio Teodósio.

O imperador reagiu de forma exagerada a um distúrbio em Tessalônica, enviando o exército para massacrar os cidadãos daquela cidade. Ambrósio considerou isso um ato hediondo e excomungou Teodósio até que o imperador cumprisse penitência.

O fato de o imperador voltar à catedral vestido de saco e coberto de cinza e ajoelhar-se diante do bispo buscando perdão é um testemunho tanto da coragem de Ambrósio quanto da humildade de Teodósio.

Houve um tempo em que a igreja enfrentou a perseguição de imperadores.

Com Ambrósio, o novo padrão de relacionamento entre a igreja e o Estado começava a se desenvolver.

Foi necessária a autoridade de Teodósio (379-395) para que, num edito assinado em Tessalônica (28 de fevereiro de 380), todos os povos submetidos ao Império fossem chamados “a aderir à fé transmitida aos romanos pelos apóstolos, à fé professada pelo pontífice Dâmaco e pelo bispo de Alexandria, ou seja, o reconhecimento da santa Trindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.

O segundo concílio ecumênico, reunido em Constantinopla em 381 graças aos cuidados de Teodósio, fez triunfar a fé nicena.

O catolicismo ortodoxo tornava-se a religião oficial de todo o mundo romano. Teodósio vai ainda mais a fundo: empreendeu a destruição do velho politeísmo romano e ao mesmo tempo, beneficiou o cristianismo com múltiplos privilégios fiscais e judiciários.

Os bens confiscados dos templos pagãos foram entregues às igrejas, que, ajudadas pelos ofícios imperiais, tornaram-se amiúde muito ricas.

Pode-se dizer que, desde então, a Igreja ficou vinculada ao estado? Sem dúvida, ela se conforma à estrutura administração aperfeiçoada por Diocleciano: cada cidade tinha seu Bispo, cada província seu metropolita.

Mas, enquanto os funcionários imperiais eram nomeados pelo imperador, os bispos (...) eram livremente eleitos pelo clero local e a população de tal maneira que a autoridade religiosa era bem distinta da civil.

Fundamento de uma monarquia de direito divino, a Igreja representava também um poder espiritual (...) Aliás, a decadência do Império, no século V, não se fez acompanhar da decadência da jovem Igreja.


AMBRÓSIO TORNA-SE BISPO DE MILÃO

Era governador da cidade. Quando ocorreu uma controvérsia sobre o novo bispo da cidade ele foi juiz da questão e o povo acabou o aclamando bispo pela sua bondade;

Batizou-se e cumpriu todos os sacramentos em uma semana e daí assumiu o posto. Portou-se como ortodoxo, seguindo as decisões de Nicéia, contra o arianismo; Isso desagradou à imperatriz Justina, que em 385 mandou os soldados cercarem a catedral, mas Ambrósio junto de toda a congregação não se retirou, e após horas de tensão acabaram vencendo.


A QUESTÃO DO CELIBATO

Essa organização, cuja força, afinal, apoiava-se na crença e no prestígio, exigia certa regulamentação para sua vida eclesiástica.

Nos primeiros três séculos não se exigira o celibato do sacerdote, que podia manter uma esposa com a qual se tivesse casado antes da ordenação, porém não devia casar-se depois de receber as ordens sacras.

Não podia ser ordenado o homem que se tivesse casado com duas mulheres ou com viúva, divorciada ou concubina.

A semelhança de muitas sociedades, a Igreja teve também Seus extremistas.

Reagindo contra a licenciosidade sexual da moral pagã, alguns cristãos entusiastas depois de lerem uma passagem de São Paulo, chegaram à conclusão de que era pecado qualquer relação entre os sexos.

Eles condenaram todos os casamentos e manifestaram sua repugnância pelos sacerdotes casados.

O Concílio Provincial de Gengra (ano 362) condenou esse ponto de vista, taxando-o de heresia, porém cada vez mais ia a Igreja exigindo o celibato para seus sacerdotes.

As igrejas recebiam doação de propriedades e, uma vez ou outra, um sacerdote casado pedia que se fizesse o legado em seu próprio nome e o transmitia depois para os filhos.

Surgiam algumas vezes casos de adultério ou outros escândalos nos casamentos deles, o que diminuía o respeito que o povo Ilhe tributava.

Recomendou-se no sínodo realizado em Itoma, no ano 386, que o clero observasse completamente a castidade, tendo o Papa Sirício decretado um ano mais tarde que deixassem suas vestes sacerdotais todos àqueles que se casassem ou continuassem a viver com suas esposas.

Jerônimo, Ambrósio e Agostinho apoiaram fortemente o decreto, o qual, após uma geração em que houve resistências esporádicas, foi observado no Ocidente, com relativo êxito.


CONVERSÃO DE AGOSTINHO

Nasceu em 354. Na juventude era um intelectual, porém voltava-se à sensualidade;

Passou pelo maniqueísmo e pelo neoplatonismo, em busca pela verdade.

Considerava a fé cristã uma coisa para pessoas simples; Conheceu Ambrósio e esta concepção começou a mudar;

Em 387, enquanto estava sentado em um jardim em Milão, Agostinho ouviu uma criança cantar uma música que dizia: "Pegue-a e leia-a, pegue-a e leia-a".

Agostinho leu a primeira coisa que encontrou na sua frente: a epístola de Paulo aos Romanos.

Quando leu Romanos 13, 13,14, as palavras de Paulo que versam sobre o revestir-se do Senhor Jesus em vez de deleitar-se com os prazeres pecaminosos tocaram profundamente seu coração, e Agostinho creu. "

Foi como se a luz da fé inundasse meu coração e todas as trevas da dúvida tivessem sido dissipadas.

Em 391 torna-se sacerdote; Em 395 torna-se bispo de Hipona; Posicionou-se contrário ao rival ismo proposto pelo donatistas.

Para ele, apesar de haverem algumas pessoas que não eram santas em seu meio, só havia uma igreja.

Os Sacramentos eram sinais visíveis de uma graça invisível.

Deus não olha para o sacerdote ao operar através dele.

Escreveu centenas de livros, cartas, comentários;

Influenciou tanto o catolicismo quanto o posterior protestantismo com sua defesa da supremacia da graça ante as obras;

É acusado de ser fatalista, por crer, em oposição à Pelágio, que Deus tudo tem predestinado e que é Ele que nos leva a tudo.


UMA REFLEXÃO PERTINENTE

A história da Igreja nos fornece uma serie de dados e matérias, que se aplicados no sentido epistemológico, de conhecimento, a uma turma de alunos, pode vir a trazer grandes avanços em suas concepções quanto à atual realidade religiosa e possibilitar que estes se situem criticamente ante as questões levantadas, além de lhes acrescentar em cultura e em um conhecimento histórico, que no sentido mais geral lhes é privado.

Porém outra possibilidade de abordagem que pode ser construída junto a esta citada acima, que se trata da história reflexiva, na qual levamos para a sala de aula, a cada tema aberto algumas questões que se ligam aos temas presentes no seu dia-a-dia e às coisas próprias da adolescência ou da infância.

Dentro de uma História da Igreja, no sentido mais geral, temos na verdade um conjunto de muitas histórias de vidas que se entrelaçaram com um propósito. Portanto, como exemplo destas questões transversais à história propõe a analise de alguns dados da vida de Agostinho.


A TRANSFORMAÇÃO DE AGOSTINHO:

Em sua obra intitulada ‘Confissões’, Agostinho conta como resistiu aos conselhos da mãe quando tinha 12 anos de idade e fora viajar para a África.

Nesta obra Agostinho comenta que fora constrangido a pecar conforme o mundo, pelo pecado alheio, de seus amigos:

“Aos 12 anos mandaram Agostinho para a escola em Madaura e aos 17 para um curso superior em Cartago”. Silviano iria logo descrever a África como "a cloaca do mundo" e Cartago como "a cloaca da África".

Daí os muitos conselhos de Mônica ao filho quando se despediu dele: disse ela me ordenou, e foi com muita veemência que me preveniu que não fornicasse e, sobretudo não desonrasse a mulher do próximo.

Para mim, diz Agostinho tal conselho me pareceu muito fútil, o qual teria vergonha de seguir ... Fui tão cego na minha conduta que fiquei envergonhado, no meio de meus companheiros, de sentir-me menos impudente do que eles, eles que se, orgulhavam das façanhas que praticavam; quanto mais se excediam em suas proezas, tanto mais se vangloriavam, e eu comecei a sentir prazer em fazer a mesma coisa, não pelo prazer do ato em si, mas para poder vangloriar-me dele também... e quando não tinha oportunidade de praticar uma maldade que me tornasse tão mau quanto eles, fingia que a havia praticado.

Possibilidade de propormos uma meditação no texto de Romanos 12,2:

“E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus”.


400 – COMEÇAM AS INVASÕES BÁRBARAS AO IMPÉRIO ROMANO


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