No Evangelho de Lucas, encontramos uma das passagens mais significativas quando queremos fazer uma reflexão sobre a importância da Palavra de Deus em nossas vidas. A cada passo dado por Jesus em direção dos discípulos de Emaús, vamos encontrando uma verdadeira metodologia de trabalho pastoral.
No primeiro momento em Lc 24,13 24 - Jesus encontra os dois discípulos numa situação de medo e dispersão, de descrença e desespero. A primeira atitude de Jesus é de aproximação, caminha ao lado deles, escuta a conversa e num segundo momento pergunta: "De que vocês estão falando? Por que estão tristes?" Não se trata de pergunta retórica, mas de pergunta concreta, que toca a vida dos dois. Em seguida se estabelece um diálogo por meio de perguntas e respostas. A realidade está sendo clareada. Através de um olhar mais crítico, afinal, os discípulos olhavam, mas com o olhar das autoridades: "Nossos chefes dos sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte, e o crucificaram. Nós esperávamos que fosse ele o libertador de Israel, mas, apesar de tudo isso, já faz três dias tudo isso aconteceu!"
No segundo momento (Lc 24,25-27) Depois de dialogar e olhar bem a realidade, Jesus percebe que a visão que os dois tinham, não era das melhores. No trabalho de evangelização, é preciso conhecer o tamanho da cabeça das pessoas para colocar o chapéu ideal, caso contrário, ou tapa a visão ou no primeiro ventinho vai embora: "Como vocês custam para entender, e como demoram para acreditar em tudo o que os profetas falaram! Será que o Messias não devia sofrer tudo isso, para entrar na sua glória?" Jesus dá uma chacoalhada nos dois, procurando acordá-los desta realidade em que se encontram, afinal não. se trata de recusa em perceber a realidade. Eles não custaram para "saber", mas para "entender e acreditar". O seu problema era que embora conhecessem o livro Sagrado e também o livro da vida, eles não conseguiam ligar as duas coisas. Então Jesus "explica" as Escrituras, isto é, Ele não dá uma aula de exegese, mas faz a ligação entre a vida deles e iluminando a sua realidade com a Palavra de Deus. Com a ajuda da Palavra, ilumina os fatos e situa-os dentro do conjunto do projeto de Deus, transformando a cruz, sinal de morte, em sinal de vida e de esperança. Assim, aquilo que os impedia de caminhar, tornou-se a força principal na caminhada, a nova luz no caminho.
O terceiro momento (Lc. 24, 28-32) Jesus se despede dos dois. Momento. tenso! Se nada adiantou este trabalho, o resultado seria mero "até breve!" ou "foi bom conhecê-lo!". Aqui Jesus faz uma avaliação de seu trabalho. A Palavra, por si só, não abriu os olhos dos dois, mas a sua leitura e interpretação fizeram arder neles o coração (Lc 24,32), e isto é muito importante. O que faz enxergar mesmo é a fração do pão, o gesto comunitário da hospitalidade, da oração em comum, da partilha do pão ao redor da mesa. No momento em que é reconhecido, Jesus desaparece. Pois eles mesmos experimentam a ressurreição. Ressuscitam e renascem.
O Quarto momento (Lc 24,33-35), imediatamente, eles levantam e voltam para Jerusalém. Tudo mudou: coragem, em vez de medo; retorno, em vez de fuga; fé, em vez de descrença; esperança, em vez de desespero; consciência crítica, em vez de fatalismo frente ao poder; liberdade, em vez de opressão! Em vez da má noticia da morte, a Boa Notícia da Ressurreição! Porque não o reconheceram antes? É provável que o corpo glorificado de Jesus representasse uma dificuldade para ser reconhecido, mas quero sugerir um grande motivo: Os olhos dos discípulos estavam fitos na cruz, não no túmulo. Eles se fixaram tanto na cruz, que seus olhos ficaram como que petrificados. Por isto, não puderam tirar do túmulo vazio a consequência principal. Se Jesus ressuscitara, a vida tinha sentido.
Há muitos cristãos petrificados pela derrota, olhando para as dificuldades, e não avivados pela esperança. A história do encontro de Jesus com os discípulos a caminho de Emaús é uma das mais lindas do Novo Testamento.
Ela mostra o que acontece conosco em certos momentos da vida. No entanto, ela mostra também o que Jesus faz conosco quando nos dispomos a viver na Sua presença.
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