A melhor explicação da conversão de São Paulo é dada por ele mesmo quando fala do batismo cristão como ser batizados na morte de Cristo, sepultado junto com ele para ressuscitar com ele e caminhar em uma vida nova (Romanos 6, 3-4).
Paulo viveu em si mesmo o mistério pascal de Cristo, em torno do qual gravitará depois todo seu pensamento. Jesus permaneceu três dias no sepulcro; durante três dias, Saulo viveu como um morto: não podia ver, estar em pé, comer; depois no momento do batismo, seus olhos voltaram a abrir-se, pôde comer e retomou as forças, voltou à vida (Atos 9, 18).
Imediatamente depois de seu batismo, Jesus se retirou ao deserto e Paulo também, depois de ser batizado por Ananias, retirou-se ao deserto da Arábia, ou seja, ao deserto ao redor de Damasco. Os exegetas calculam que entre o acontecimento no caminho de Damasco e o inicio de sua atividade pública na Igreja haja uma dezena de anos de silêncio na vida de Paulo.
Os judeus o procuravam para matá-lo, os cristãos não se fiavam ainda e tinham medo dele. Da conversão de Paulo temos duas descrições distintas: uma que descreve o acontecimento, por assim dizer, desde fora, de forma histórica, e outra que descreve o acontecimento desde dentro, de forma psicológica ou autobiográfica. O primeiro tipo é o que encontramos nas diversas narrações que se leem nos Atos dos Apóstolos.
A ele pertencem também alguns esboços que o próprio Paulo faz do acontecimento, explicando como de perseguidor se transformou em apóstolo de Cristo (Gál 1, 13-14). Ao segundo tipo pertence o capítulo 3 da Carta aos Filipenses, onde o Apóstolo descreve o que significou para ele, subjetivamente, o encontro com Cristo, o que era antes e o que chegou a ser depois; em outras palavras, em que consistiu, essencial e religiosamente, a mudança realizada em sua vida.
Nós nos concentramos neste texto que, por analogia com a obra de Santo Agostinho, poderíamos definir como as confissões de São Paulo.
Em toda mudança há um terminus a quo e um terminus ad quem, um ponto de partida e um ponto de chegada. O apóstolo descreve antes de tudo o ponto de partida, o que era antes: No entanto, eu poderia confiar também na carne. Se há quem julgue ter motivos humanos para se gloriar, maiores os possuo eu: circuncidado ao oitavo dia, da raça de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu e filho de hebreus. Quanto à lei, fariseu; quanto ao zelo, perseguidor da Igreja; quanto à justiça legal, declaradamente irrepreensível. (Filipenses 3, 4-6). Alguém pode equivocar-se facilmente ao ler esta descrição: estes não eram títulos negativos, mas os máximos títulos de santidade daquele tempo. Com eles se teria podido abrir imediatamente o processo de canonização de Paulo, se isso existisse naquela época.
É como dizer hoje de si: batizado no oitavo dia, pertencente à estrutura por excelência da salvação, a Igreja Católica, membro da ordem religiosa mais austera da Igreja (este eram as fariseus!), grande observador da Regra... Ao contrário, no texto há um ponto que divide em duas a página e a vida de Paulo. Começa com um "mas" que cria um contraste total: "Mas tudo isso, que para mim eram vantagens, considerei perda por Cristo. Na verdade, julgo como perda todas as coisas, em comparação com esse bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo" (Filipenses 3, 7-8).
Ele repete três vezes o nome de Cristo neste breve texto. O encontro com ele dividiu sua vida em duas, criou um antes e um depois. Ninguém poderá jamais conhecer a fundo o que aconteceu naquele breve diálogo: "Saulo, Saulo". "Quem és, Senhor?"; "Eu sou Jesus".
Uma "revelação", define ele (Gál. 1, 15-16). Foi uma espécie de fusão a fogo, um relâmpago de luz que, ainda hoje, tendo passado dois mil anos, ilumina o mundo.
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