A morte é uma experiência que diz respeito a todas as famílias, sem exceção alguma. Faz parte da vida; e no entanto, quando atinge os afetos familiares, a morte nunca consegue parecer-nos natural.
Para os pais, sobreviver aos próprios filhos é algo de particularmente desolador, que contradiz a natureza elementar das relações que dão sentido à própria família.
A perda de um filho ou de uma filha é como se o tempo parasse: abre-se um abismo que engole o passado e também o futuro.
A morte, que leva embora o filho pequeno ou jovem, é uma bofetada às promessas, aos dons e aos sacrifícios de amor jubilosamente confiados à vida que fizemos nascer. A morte acontece, e quando se trata de um filho, fere profundamente. A família inteira permanece como que paralisada, emudecida.
E algo semelhante padece também a criança que permanece sozinha, com a perda de um dos pais, ou de ambos. E pergunta: «Mas onde está o meu pai? Onde está a minha mãe?» — Está no Céu!» — «Mas por que não o vejo?».
Esta pergunta oculta uma angústia no coração da criança que permanece sozinha.
O vazio do abandono que se abre dentro dela é ainda mais angustiante porque ela nem sequer tem a experiência suficiente para «dar um nome» àquilo que lhe aconteceu. «Quando volta o meu pai? Quando volta a minha mãe?». Que responder, quando a criança sofre? Assim é a morte em família.
Nestes casos, a morte é como um buraco negro que se abre na vida das famílias e ao qual não sabemos dar explicação alguma. E às vezes chega-se até a dar a culpa a Deus! Quantas pessoas — entendo-as — ficam com raiva de Deus e blasfemam: «Por que me tiraste o filho, a filha? Não há Deus, Deus não existe! Por que me fez Ele isto?».
Muitas vezes ouvimos frases como esta. Mas a raiva é um pouco aquilo que provém do cerne de uma grande dor; a perda de um filho ou de uma filha, do pai ou da mãe, é uma dor enorme! Isto acontece continuamente nas famílias.
Mas a morte física possui «cúmplices» que são até piores do que ela, e que se chamam ódio, inveja, soberba, avareza; em síntese, o pecado do mundo que trabalha para a morte, tornando-a ainda mais dolorosa e injusta.
Os afetos familiares parecem as vítimas predestinadas e inermes destes poderes auxiliares da morte, que acompanham a história do homem.
Pensemos na absurda «normalidade» com que, em certos momentos e lugares, os acontecimentos que acrescentam horror à morte são provocados pelo ódio e pela indiferença de outros seres humanos. O Senhor nos livre de nos habituarmos a isto!
Quando o luto se faz presente na nossa vida, algumas perguntas são inevitáveis.
“Por que aconteceu comigo?”, “será que um dia conseguirei parar de sofrer tanto?”, “quando conseguirei superar esta dor?”, “como passar por esse momento?”, “será que uma dor tão paralisante poderá um dia ser amenizada?”, “como posso me despedir de alguém que não quero que vá embora?”.
O que é o luto?
O luto está diretamente ligado ao amor que você teve e tem pela pessoa que partiu. E esse amor será uma sustentação para os momentos mais difíceis.
Ele não é fácil de ser encarado e não tem tempo delimitado! A perda, de alguém ou de algo é uma certeza que quando se concretiza, não é vivenciada com naturalidade, pois se distanciar e dizer adeus, dói demais!
Uma verdade nos é apresentada sem nos pedir licença, apenas chega. Os laços afetivos, as conversas que ainda não aconteceram, o eu te amo que ainda não foi falado, a vida que se planejou, o crescimento daquela criança que não acontecerá. A morte chega sem permissão e o enlutado começa uma batalha pela sobrevivência.
Como lidar com o luto?
Não existem fórmulas mágicas ou receitas infalíveis para lidar com o luto e sim pensamentos e atitudes que nos auxiliam nessa longa caminhada.
Entramos no luto, sofremos e temos que aprender a lidar com a ausência e com a distância. Cada pessoa tem o seu tempo, e precisamos estar livres, sem cobranças e especulações até conseguirmos nos adaptar e aprendermos a sobreviver sem a pessoa que se foi.
O “se” e o “quando” não nos ajudam em nada nesse momento, pelo contrário, essas palavras nos ferem como um punhal.
Não acreditamos no que aconteceu, não queremos falar sobre o assunto, temos falta de energia e alterações no sono, no humor e no apetite, o que nos leva a um isolamento e distanciamento do presente.
Sentimos raiva das pessoas e muitas vezes da espiritualidade que acreditamos, pois foi permitido que o ser amado fosse tirado de nós e esta raiva precisa ser colocada para fora.
A nossa angústia se transforma em revolta e a relação com outras pessoas pode se tornar um grande martírio, pois como elas conseguem trabalhar, estudar e seguir em frente?
Parece que todos continuam sua caminhada, menos o enlutado. O luto é um período de muita solidão e ao mesmo tempo, muito sagrado. É vivenciado de maneira ímpar, pois cada pessoa reage a ele de maneira diferente e não existe certo ou errado.
“Faço tudo que for possível para que esses sentimentos acabem.” É uma ideia recorrente que nos atinge, até tomarmos a consciência que não tem volta e que não poderemos fazer mais nada. Para a morte e o tempo, não existe negociação.
Em processo de doença grave e sem cura, por exemplo, a morte começa a ser encarada de perto, pois a percepção do estado de saúde do nosso ente querido aciona o gatilho do Luto antecipatório, que pode ser vivido tanto pelo paciente, como pela família, amigos e profissionais de saúde.
É uma fase dolorida e de elaboração, compreendida entre o diagnóstico de uma doença e a morte propriamente dita. A tristeza se faz presente, com a percepção consciente que a perda está ali. Percebemos a finitude do ser humano.
O que fazer?
A morte ainda não aconteceu, mas o processo de elaboração desta perda sim.
Aproveite esse tempo para abraçar, cuidar, amar… aqui as despedidas, as reconciliações, declarações e as pendências têm uma chance de serem resolvidas, e isso traz um grande conforto ao coração do enlutado e do paciente. Ame, mas ame muito e fale desse sentimento com quem está partindo, pois ambos os lados, precisam saber o quanto são importantes e amadas.
No luto, a busca pela cura da dor começa a ser frenética. Permita-se sofrer, ficar triste, desesperar-se, reclamar, perguntar, chorar, chorar e chorar. Fale, mas fale muito, sobre o que está sentindo. Fale sobre todas as emoções, sentimentos e dúvidas.
Procure um familiar, um amigo ou um profissional.
Escreva diários ou cartas para quem o coração pedir, relatando suas emoções, expectativas e sentimentos.
É chegada a hora de sentir falta, desespero, desesperança, desatenção e saudade.
Reviva momentos bons e de alegria, porque o tempo que vocês estiveram juntos foi um presente.
O passado está ali para ser visitado e o amor que sente pela pessoa que partiu continuará o mesmo. Agora vocês não são duas pessoas e sim uma só.
Uma mistura de sensações e emoções acontece como uma avalanche. Um dia você acorda triste, logo depois esboça um sorriso e dorme chorando. Às vezes nos pegamos sorrindo e nos culpamos por isso, pois como posso sorrir?
Você pode sorrir, porque teve uma vida com a pessoa que se foi e as lembranças boas estão aqui.
Quando toca uma música ou sentimos um cheiro, às vezes não conseguimos controlar as lágrimas.
E está tudo bem, porque temos o direito de termos uma montanha russa dentro do peito, e ela se chama luto.
O que precisa ficar claro é que não precisamos ter vergonha de sofrer..
O sentimento é seu, cuide dele, cuide de você e lembre-se que não precisa passar por tudo isso sozinho..
A partir do momento em que conseguimos sentir saudades sem a sensação que o mundo irá desabar, aí sim podemos dizer que reaprendemos a viver.
As lembranças ocupam o lugar do desespero e do desamparo.
Claro que lágrimas ainda aconteceram, mas os sorrisos também.
A fé, a vontade de estar próximo das outras pessoas e planejamento para um novo futuro começa a acontecer.
Caso perceba que o sofrimento e o luto estão extensos demais te incapacitando e que não consegue seguir em frente, com o seu emprego, filhos, irmãos, casamento, procure um auxílio psicológico ou um psiquiatra para que consiga ter um amparo para elaborar esse processo.
O luto é necessário e primordial para que consigamos continuar nossa caminhada, sem tempo pré-determinado, mas que pode ser amparado e cuidado.
A vontade de abraçar, a vontade de ganhar e dar mais um beijo estará sempre presente. E junto com estes desejos, estarão também, a certeza que vivenciamos esses papéis e que podemos falar desses sentimentos com propriedade, com orgulho, com a certeza que seremos para sempre unidos.
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