Mais do que nunca, é preciso prestar atenção hoje à educação da afetividade dos filhos e à reeducação da afetividade dos adultos.
Uma educação e uma reeducação que devem ter como base esse conceito mais nobre do amor que acabamos de formular: aquele que vai superando o estágio do amor de apetência - que apetece e dá prazer - para passar ao amor de complacência - que compraz afetivamente - e abrir-se ao amor oblativo de benevolência, que sabe renunciar e entregar-se para conseguir o bem do outro.
O amor maduro exige domínio próprio: ir ascendendo do mundo elementar - imaturo - do mero prazer, até o mundo racional e espiritual em que o homem encontra a sua plena dignidade.
Reclama que se canalizem as inclinações naturais sensitivas para pô-las ao serviço da totalidade da pessoa humana, com as suas exigências racionais e espirituais. Requer que se conceda à vontade o seu papel reitor, livre e responsável.
O "amor como dom de si comporta - diz o Catecismo da Igreja Católica - uma aprendizagem do domínio de si. As alternativas são claras: ou o homem comanda e domina as suas paixões e obtém a paz, ou se deixa subjugar por elas e se torna infeliz. Esse domínio si mesmo é um trabalho a longo prazo. Nunca deve ser considerado definitivamente adquirido. Supõe um esforço a ser retomado em todas as idades da vida".
Isto significa cultivar o amor. O maior de todos os amores desmoronar-se-á se não for aperfeiçoado diariamente. Empenho este que, na vida diária, se traduz no esforço por esmerar-se na realização das pequenas coisas, à semelhança do trabalho do ourives, feito com filigranas delicadamente entrelaçadas cada dia, na tarefa de aprimorar o trato mútuo, evitando os pormenores que prejudicam a convivência.
A convivência é uma arte preciosa. Exige uma série de diligências: prestar atenção habitual às necessidades do outro; corrigir os defeitos; superar os pequenos conflitos para que não gerem os grandes; aprender a escutar mais do que a falar: vencer o cansaço provocado pela rotina; retribuir com gratidão os esforços feitos pelo outro e especialmente, renovar, no pequeno e no grande, o compromisso de uma fidelidade que exige perseverança nas menores exigências do amor..., uma perseverança que não goza dos favores de uma sociedade hedonista e permissivista, inclinada sempre ao mais gostoso e prazeroso.
O coração não foi feito para amoricos, dizíamos, mas para amores fortes. O sentimentalismo é para o amor o que a caricatura é para o rosto. Alguns parecem ter o coração de chiclete: apegam-se a tudo. Uns olhos bonitos, uma voz meiga, um caminhar charmoso, podem fazer-lhes tremer os fundamentos da fidelidade.
Outros parecem inveterados novelistas: sentem sempre a necessidade de estar envolvidos em algum romance, real ou imaginário, sendo eles os eternos protagonistas: dão a impressão de que a televisão mental lhes absorve todos os pensamentos. Precisamos educar o nosso coração para a fidelidade.
Amores maduros são sempre amores fiéis.
Não podemos ter um coração de bailarina. A guarda dos sentidos, especialmente da vista e da imaginação há de proteger-nos da inconstância sentimental, do comportamento volátil de um "beija-flor"... Tudo isto faz parte do que denominávamos a educação afetiva dos jovens e a reeducação afetiva. Como dito por João Paulo II "a educação para o amor como dom de si: diante de uma cultura que «banaliza» em grande parte a sexualidade humana, porque a interpreta e vive de maneira limitada e empobrecida, ligando-a exclusivamente ao corpo e ao prazer egoístico, a tarefa educativa deve dirigir-se com firmeza para uma cultura sexual verdadeira e plenamente pessoal. A sexualidade, de fato, é uma riqueza da pessoa toda - corpo, sentimento e alma-, e manifesta o seu significado íntimo ao levar a pessoa ao dom de si no amor".
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