Constantinopla como sua nova capital para o império e ela se tornaria, no futuro, o principal centro intelectual e cultural do mundo cristão.
Durante o século IV, a cristandade foi consumida por debates sobre o que seria "ortodoxo", ou seja, quais doutrinas religiosas seriam as corretas.
No início do século, um grupo no norte da África, chamado posteriormente de donatistas, que acreditava numa interpretação bastante rígida do cristianismo que excluía todos os fieis que haviam abandonado a fé ou entregado livros sagrados aos romanos durante a perseguição de Diocleciano, criaram uma crise no império.
Um sínodo ou concílio foi realizado em Roma em 313, seguido de outro em Arles em 314, este último presidido por Constantino, que era ainda o imperador júnior na ocasião
Estes sínodos determinaram que a fé donatista = ( nome advém de Donato de Casa Nigra, bispo da Numídia e posteriormente de Cartago) era uma heresia e, quando os donatistas se recusaram a abandoná-la, Constantino lançou a primeira campanha de perseguição de cristãos por cristãos, iniciando assim a interferência imperial na teologia cristã.
Porém, durante o reinado do imperador Juliano, o Apóstata, os donatistas, que já havia trinta anos eram a maioria dos fieis nas províncias do norte da África, receberam permissão oficial para continuarem existindo.
DEBATES ENTRE OS CRISTÃOS
Todos os cristãos do império, acadêmicos e leigos, se envolveram cada vez mais em debates sobre cristologia, ou seja, o estudo de Cristo. As opiniões variavam da crença de que Jesus era inteiramente humano (ebionismo) à inversa, de que ele seria inteiramente divino (docetismo).
O debate mais persistente se deu entre os homoousianos (também chamados de atanasianos), que acreditavam que o Pai e o Filho compartilhavam da mesma substância, desde sempre, a visão que fora adotada no concílio convocado por Constantino em Niceia em 325, e os homoiousianos (arianos), que acreditavam que o Pai era maior que o Filho e cujas diversas subdivisões ensinavam variadas formas de similaridade entre os dois.
Os imperadores, da mesma forma, também se envolveram nas disputas da igreja, cada vez mais dividida.
Constantino estava dividido (inclusive sobre sua fé cristã), mas, na maior parte das vezes, apoiou o grupo de Atanásio, embora tenha sido batizado pelo bispo ariano Eusébio de Nicomédia.
Seu sucessor, Constâncio II, apoiava uma posição semi-ariana enquanto que Juliano, o Apóstata, tentou reverter completamente para a religião pagã tradicional, mas seu plano foi frustrado pelo seu sucessor, Joviano, um atanasiano.
Um concílio em Rimini em 359 apoiou os arianos e um outro, em Constantinopla em 360, chegou numa solução de compromisso entre atanasianos e arianos. uma derrota para os ortodoxos.
Finalmente, o Concílio de Constantinopla de 381, convocado pelo imperador Teodósio I, reafirmou a visão nicena (atanasiana) e rejeitou os arianos. Este concílio refinou ainda mais a definição de ortodoxia publicando, de acordo com a tradição, o credo niceno-constantinopolitano.
Em 27 de fevereiro do ano anterior, Teodósio havia estabelecido, com o Édito de Tessalônica, o cristianismo do Primeiro Concílio de Niceia como a religião estatal oficial do império, reservando para seus seguidores o título de "cristãos católicos" e declarando que os que não seguissem a religião ensinada pelo papa Dâmaso I de Roma e pelo papa Pedro II de Alexandria deveriam ser chamados de heréticos;
“É nosso desejo que todas as diversas nações que são sujeitas à nossa clemência e moderação devam continuar a professar a religião que foi dada aos romanos pelo divino apóstolo Pedro, como preservada pela tradição dos fieis, e que é agora professada pelos pontífices Dâmaso e Pedro, bispo de Alexandria, um homem de santidade apostólica. De acordo com a doutrina apostólica e a doutrina do Evangelho, acreditemos em uma divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, em igual majestade e em Santíssima Trindade. Autorizamos os seguidores desta lei a assumir o título de cristãos católicos; mas os demais, uma vez que, em nosso julgamento, são loucos e tolos, decretamos que sejam marcados com o ignominioso nome de heréticos e que não tenham a pretensão de dar aos seus conventículos o nome de igreja. Eles sofrerão em primeiro lugar o castigo da divina condenação e, em segundo, a punição de nossa autoridade que, de acordo com a vontade do Céu, decidamos infligir.”
Em 391, Teodósio fechou todos os templos "pagãos" (não cristãos e não judeus) e formalmente proibiu o culto pagão.
No final do século IV, o Império Romano já estava efetivamente dividido em dois estados independentes, embora a economia e a Igreja, que acabara de ser transformada em estatal, ainda estivessem fortemente inter-relacionadas.
As duas metades do império sempre tiveram diferenças culturais, exemplificadas principalmente pelo amplo uso do grego no oriente e seu uso muito mais limitado no ocidente (o grego, assim como o latim, eram utilizados no ocidente, mas apenas este era falado pela população).
Na época da fundação da igreja estatal no final do século IV, os acadêmicos no ocidente já haviam abandonado o uso do grego em favor do latim.
Mesmo a Igreja de Roma, onde o grego vinha sendo utilizado na liturgia por mais tempo do que nas províncias, abandonou o grego. A Vulgata de Jerônimo começou também a substituir as traduções latinas mais antigas da Bíblia.
O século V veria ainda mais rupturas na igreja estatal do Império Romano.
O imperador Teodósio II convocou dois sínodos em Éfeso, o primeiro em 431 e o outro em 449.
O primeiro deles condenou os ensinamentos do arcebispo de Constantinopla Nestório e o segundo defendeu os ensinamentos monofisitas do arquimandrita Eutiques contra o arcebispo Flaviano de Constantinopla.
Nestório era contra o uso de Teótoco ("portadora de Deus"), um título que vinha se popularizando entre os orientais para se referir a Maria, e, para contê-lo, ensinava que as naturezas divina e humana de Cristo eram pessoas distintas e, portanto, Maria seria mãe de Jesus, mas não a "mãe de Deus", dando a entender que Jesus seria mais humano que divino.
Eutiques, na outra ponta do espectro teológico, ensinava que havia em Cristo apenas uma única natureza, divina e diferente da encontrada nos demais seres humanos.
O Primeiro Concílio de Éfeso rejeitou as ideias de Nestório, o que fez com que algumas das igrejas centradas na Escola de Edessa, uma cidade na fronteira sassânida do império, se separassem. Perseguidos no Império Romano, muitos nestorianos fugiram para o Império Sassânida e se juntaram à Igreja Persa (a futura Igreja do Oriente).
O Segundo Concílio de Éfeso defendeu a visão de Eutiques, mas foi desautorizado dois anos depois pelo Concílio de Calcedônia, convocado pelo imperador Marciano.
A rejeição da doutrina calcedoniana provocou a saída da igreja estatal da maioria dos cristãos no Egito e muitos no Levante, que preferiam a teologia miafisita (uma forma atenuada do monofisismo defendido por Eutiques, mas ainda assim diferente do diafisismo calcedoniano)
Assim, além de perder todo o ocidente, a igreja estatal sofreu uma forte diminuição também no oriente já no seu primeiro século de vida. Os que defendiam a doutrina do Concílio de Calcedônia ficaram conhecidos em língua siríaca como melquitas, a "igreja imperial", seguidores do "imperador"
Este cisma resultou numa comunidade independente de igrejas que inclui a Egípcia, Siríaca, Etíope e a Armênia e é conhecida atualmente como Ortodoxia Oriental.
Apesar destes cismas, porém, a igreja imperial ainda representava a maioria dos cristãos dentro do cada vez menor Império Romano.
FIM DO IMPÉRIO ROMANO DO OCIDENTE
No século V, o Império Romano do Ocidente rapidamente decaiu e já não existia mais no final do século. No espaço de umas poucas décadas, as tribos germânicas, principalmente os godos e vândalos, conquistaram as províncias ocidentais. Roma foi saqueada em 410 e em 455 e seria novamente no século seguinte, em 546.
Em 476, o líder militar Odoacro conquistou a Itália e depôs o último imperador do ocidente, Rômulo Augusto, mas ainda se manteve, nominalmente, sob a autoridade de Constantinopla.
As tribos germânicas, arianas, criaram suas próprias igrejas, com bispos distintos da estrutura estatal, nas províncias ocidentais, mas eram geralmente tolerantes com os que escolhessem permanecer em comunhão com a igreja estatal.
Em 533, o imperador Justiniano I lançou uma campanha militar para reconquistar as províncias ocidentais dos germânicos arianos, começando com o norte da África e seguindo para a Itália. Seu sucesso em recapturar a maior parte do Mediterrâneo ocidental foi, contudo, temporário.
A maior parte dos ganhos se perdeu, mas Roma, como parte do Exarcado de Ravena, se manteve até 751.
Justiniano definitivamente criou uma forma de cesaropapismo acreditando "ter o direito e o dever de regulamentar com suas leis os mínimos detalhes da disciplina e do culto e também de ditar as opiniões teológicas que deveriam defendidas pela Igreja".
O termo "ortodoxo" ocorre pela primeira vez no Código de Justiniano: "Ordenamos que todas as igrejas católicas, por todo o mundo, sejam colocadas sob o controle dos bispos ortodoxos que abraçaram o credo niceno.".
Já no final do século VI, a igreja estatal imperial estava firmemente ligada ao governo imperial, enquanto o cristianismo ocidental estava majoritariamente sujeito às leis e costumes de várias nações que não tinham compromisso nenhum com o imperador.
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