A antiga cidade de Filadélfia, cujo nome significa “Amor Fraternal”, situada a 27 milhas a sudoeste de Sardes e a 200 metros acima do nível do Mediterrâneo, retrata perfeitamente o ambiente em que viveram aqueles que cumpriram o propósito de Deus ao erguerem unânimes as suas vozes num alto brado de alarma ao mundo inteiro e cujo viver fremia (O mesmo que: bramava, bramia, rugia, vibrava, agitava, tremia, estremecia) de abundante amor mútuo e transbordante por Cristo.
Eles tinham “o Evangelho Eterno para proclamar aos que habitam sobre a Terra e a toda nação, e tribo, e língua, e povo.” Apocalipse 14,6.
Situada em uma vasta colina entre dois vales férteis, regados pelo rio Hermus, Filadélfia era uma cidade estratégica, principal rota do correio imperial de Roma para o oriente.
Oferecia uma passagem natural, uma porta aberta, por isso ela é também chamada de “a porta do oriente”.
O paganismo tinha em Filadélfia o seu culto ao deus sol com seus altares e seus templos. Porém, pelos fins do primeiro século o seu estado religioso cristão era florescente. Hoje a cidade chama-se “Allah Shehr”, nome turco que significa – Cidade de Deus.
A carta dirigida à Igreja em Filadélfia (Apocalipse 3,7-13) compreende o sexto período histórico de um povo, contra o qual as portas do inferno jamais prevaleceram (Mateus 16,18) e depois de suportar com firmeza as intensas perseguições durante o período negro da história (538 a 1798 dC), volta ao cenário mundial para cumprir as palavras de Jesus: “E ser-Me eis testemunhas..., até os confins da Terra.”
O ambiente em que este povo vivia não era dos mais favoráveis, pois em sua volta viviam aqueles que seguiam as tradições idólatras da igreja romana, com seus altares e seus templos.
Mesmo diante de todas as dificuldades, os fiéis que formavam as suas fileiras, esquadrinhavam profundamente seus corações, consagravam-se diariamente a Deus e suas vidas transbordavam de paz, gozo e amor em Jesus.
COMO CRISTO SE INTRODUZ À IGREJA EM FILADÉLFIA
“Ao anjo da igreja em Filadélfia escreve: Isto diz o que é santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi; o que abre, e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre.” Apocalipse 3,7.
O Filho de Deus identifica-Se a esta igreja apresentando-Se como Santo.
A expressão “Santo” aparece em Lucas 1,35, quando o anjo Gabriel trouxe o anúncio do nascimento de Jesus à Maria: “Virá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso o que há de nascer será chamado SANTO, Filho de Deus.” Lucas 1,35.
O Filho de Deus identifica-Se também à igreja em Filadélfia como: “verdadeiro”. Se Ele não fosse “verdadeiro”, não poderia triunfar sobre Seus inimigos quando Ele vier para estabelecer o Seu reino na Terra (Apo. 19,11-21).
A declaração de Jesus de que Ele possui a chave de Davi tem se tornado emblemática e de difícil compreensão para a maioria que segue o cristianismo romano.
Quando o anjo Gabriel anunciou a Maria o nascimento de Jesus, disse-lhe: “Este será grande e será chamado filho do Altíssimo; o Senhor Deus Lhe dará o trono de Davi, Seu Pai.”
Davi era pai de Jesus segundo a linhagem carnal, baseado em Sua genealogia (Mateus 1,1-16; Lucas 3,23-38).
Jesus, durante o Seu ministério, foi reconhecido como “Filho de Davi” (Lucas 18,38; Mateus 9,27; Mateus 15,22; Mateus 21,15; etc.).
Na figura do rei Davi, é Jesus ainda referido nas profecias como Aquele que há de reinar no glorioso reino milenar futuro: “Portanto salvarei as Minhas ovelhas, e não servirão mais de presa; e julgarei entre ovelhas e ovelhas. E suscitarei sobre elas um só Pastor para as apascentar, o Meu servo Davi. Ele as apascentará, e lhes servirá de Pastor. E Eu, o Senhor, serei o Seu Deus, e o Meu servo Davi será príncipe no meio delas; Eu, o Senhor, o disse.” Ezequiel 34,22-24.
Entendemos que aquela autoridade que Deus conferira a Davi, ao escolhê-lo para reinar sobre o Seu povo, Israel, Deus reverterá essa autoridade a Jesus, para ser o verdadeiro Rei de quem Davi era um símbolo.
É esta a razão por que o Salvador declara ter a “chave de Davi”.
Chave é emblema de autoridade. Jesus disse: “Foi-Me dada toda a autoridade no céu e na terra.” Mateus 28,18. Estas palavras foram proferidas quando o Senhor Jesus apareceu aos Seus discípulos um pouco antes de Sua ascensão, a fim de comissioná-los a ir e fazer novos discípulos.
UMA CARTA SEM CRÍTICAS. ELOGIOS SOMENTE
Entre as sete cartas às igrejas no Apocalipse, encontramos duas que não contêm nenhuma crítica: A carta à igreja em Esmirna, uma congregação pobre que enfrentava perseguição, e a carta à igreja em Filadélfia, uma congregação fraca e limitada, mas que dependia de Deus.
Jesus se dirige à Igreja em Filadélfia da maneira mais solene e mais sublime: “Conheço as tuas obras (eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, que ninguém pode fechar), que tens pouca força, entretanto guardaste a Minha palavra e não negaste o Meu nome. Eis que farei aos da sinagoga de Satanás, aos que se dizem judeus, e não o são, mas mentem, eis que farei que venham, e adorem prostrados aos teus pés, e saibam que eu te amo. Porquanto guardaste a palavra da Minha perseverança, também Eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para por à prova os que habitam sobre a terra.” Apocalipse 3,8-10. A figura de uma porta aberta era familiar nos tempos da igreja primitiva.
Paulo e Barnabé relataram em Antioquia que Deus “abrira aos gentios a porta da fé” (Atos 14,27). Em outra oportunidade o apóstolo Paulo solicita aos fiéis de Colossos que orassem “para que Deus nos abra a porta à palavra” (Colossenses 4,3).
Estas passagens explicitam com clareza o significado das palavras “uma porta aberta”. Elas significam que durante o período histórico representado pela Igreja em Filadélfia, a porta se abriu para o trabalho de evangelização, em cumprimento às seguintes palavras proféticas: “...Importa que profetizes outra vez a muitos povos, e nações e línguas e reis.” Apocalipse 10,11.
Depois de completado o período de 1260 anos de perseguição religiosa (538 a 1798 dC), o mundo foi sacudido por uma mensagem solene e poderosa.
O povo de Deus posiciona-se para anunciar outra vez ao mundo, com absoluto vigor, o verdadeiro evangelho, representado na figura de um poderoso anjo.
A pregação entusiástica e poderosa do anjo relatada em Apocalipse 10,3 identifica-se com o do primeiro anjo de Apocalipse 14,6 e 7.
Ambos proferem sua proclamação com poderosa voz (comparar Apocalipse 10,3 com 14,7); ambos exaltam a Deus como Criador dos céus, da terra, do mar e tudo o que neles há (comparar Apocalipse 10,6 com 14,7) e ambos cumprem uma obra de extensão mundial (comparar Apocalipse 10,2 com Apocalipse 14,6).
Muitos sinceros “que não contaminaram suas vestes” com a apostasia ocorrida durante o período histórico da igreja em Sardes, libertos da opressão autoritária de Roma Eclesiástica e de outros movimentos que dela saíram, finalmente puderam levantar-se para cumprir a sua missão no tempo pré-estabelecido pela profecia. Muitos falsos líderes surgiram naquele período, entre os quais alguns que até marcaram data para a volta de Jesus e diziam ser o verdadeiro “Israel espiritual”, com intuito de tentar confundir e enganar aqueles que harmonizavam a sua fé com os princípios básicos da Palavra de Deus.
No texto sob análise, a seguinte declaração de Jesus merece uma atenção especial: “Eis que farei aos da sinagoga de Satanás, aos que se dizem judeus, e não o são, mas mentem, eis que farei que venham, e ADOREM PROSTRADOS aos teus pés, e saibam que eu te amo.” Apocalipse 3,9.
Está Jesus dizendo que certas pessoas deveriam “adorar” ou “prestar culto” a outras pessoas?
É claro que não. A insistente tradução do grego (proskuneô) por “adorar” em nossas Bíblias, tem causado situações embaraçosas para muitos estudiosos da Palavra de Deus.
A explicação é que a palavra “proskuneô” pode ser traduzida por reverenciar, homenagear, inclinar-se, prostrar-se, receber respeitosamente, etc. A palavra tem o sentido de “sujeição” e nunca é utilizada no sentido de “prestar culto a Deus”. Assim, com base em Apocalipse 3,9, pode se assegurar que “proskuneô” não é um termo de uso exclusivo no relacionamento do homem para com Deus.
Em muitas Bíblias a tradução da palavra grega “proskuneô” por “adorar” é realizada de má fé, pois, quando aplicada em relação a Jesus, o principal objetivo dos tradutores é provar a Sua deidade.
A seguir citaremos um exemplo de como “proskuneô” encontra-se traduzido incorretamente em muitas Bíblias: “Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? Pois do oriente vimos a sua estrela e viemos ADORÁ-LO” . Mateus 2,2.
O mesmo texto é traduzido pela Bíblia de Jerusalém da seguinte forma: “Onde está o rei dos judeus recém-nascido? Com efeito, vimos a sua estrela no seu surgir e viemos HOMENAGEÁ-LO.”
A tradução na Bíblia de Jerusalém está correta, pois indiscutivelmente os magos não estavam considerando a Jesus como Deus, mas alguém que teria ofícios dignos de honra aqui na Terra, pois fizeram referência a Jesus como REI. Tentar desvirtuar o sentido da palavra é algo muito sério. Lembramos que o termo grego “proskuneô” não tem a conotação de adoração cultual (prestar culto a Deus). Existe, porém, um outro termo no original grego usado especificamente no que se refere ao serviço religioso voltado à devoção cultual. Para se entender melhor, basta conferir o que Jesus disse a Satanás, quando foi tentando no deserto: “Então disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás e SÓ A ELE SERVIRÁS.” Mateus 4,10.
A palavra “servirás” neste verso bíblico vem do original grego (latreuô), que significa “PRESTAR CULTO” e neste caso Jesus foi enfático: ‘..SÓ A ELE (Deus) SERVIRÁS”. O termo “latreuô” aparece 26 vezes no Novo Testamento e nenhuma vez é aplicada em relação a Jesus, por tratar-se evidentemente de um serviço de culto ao Deus único e verdadeiro.
É importantíssimo ler o verso seguinte, que diz: “Então o diabo o deixou; e eis que vieram os anjos e o SERVIRAM.” Mateus 4,11.
O verbo “servir” neste verso bíblico, é (diakoneô), que significa: servir, de prestar serviço como aquele que tem cuidado, prover com serviço, etc. Os anjos, embora reverenciem (proskuneô) a Jesus (Heb 1,6), não o cultuam (latreuô).
Há outros textos em que a palavra grega “proskuneô” foi traduzida incorretamente em muitas de nossas Bíblias:
a) “E eis que veio um leproso e o ADORAVA, dizendo: Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo.” Mateus 8,2. Mais uma vez a Bíblia de Jerusalém contextualiza o fato e traduz em harmonia com o verdadeiro sentido da palavra: “Quando de repente um leproso se aproximou e PROSTROU-SE diante dele dizendo: ‘Senhor, se queres, tens poder para purificar-me.” Mateus 8,2
b) O caso do cego de nascença que foi curado por Jesus: “Disse o homem: Creio, Senhor! E o ADOROU.” João 9,38.
Se a “adoração” do cego tinha sentido cultual (prestar culto a Deus), conforme entendem os trinitarianos, certamente os fariseus, sempre ávidos em incriminar a Jesus, teriam reagido violentamente e não hesitariam em apedrejar os envolvidos até a morte.
Mas, a Palavra de Deus nos relata que eles apenas se incomodaram por Jesus tê-los chamado de cegos (João 9,40). A verdade é que o cego apenas prostrou-se diante de Jesus numa atitude de respeito. Nada de incomum havia acontecido.
Prostrar-se diante de uma outra pessoa era muito normal nos tempos antigos.
Dentre os muitos exemplos, citaremos apenas três em que essa mesma palavra foi utilizada. Nenhum deles, porém, têm o sentido de prestar culto a Deus.
Há o relato bíblico dos irmãos de José, quando eles se “prostraram” diante dele em um de seus encontros no Egito (Gênesis 43,26). O próprio Natã, profeta de Deus, “prostrou-se” diante do rei Davi (I Reis 1,23). Até mesmo Moisés prostrou-se diante do sogro e o beijou (Êxodo 18,7).
Considerando tudo isso, não existe razão alguma para se crer que “proskuneô” quando aplicado a Jesus deva ser entendido como adoração no mesmo sentido que adoramos a Deus, mas deve ser entendido como uma saudação respeitosa.
CONCLUINDO
“Venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.” Apocalipse 3,11.
Em nenhuma outra parte das profecias do Apocalipse é feita referência à segunda vinda de Cristo com tanta evidência.
À Igreja em Tiatira foi dito: “Mas, o que tendes retende-o até que Eu venha”. À igreja em Sardes foi admoestado: “E, se não vigiares, virei sobre ti como um ladrão”, demonstrando maior aproximação do grande acontecimento. Mas à igreja em Filadélfia, o tema da segunda vinda de Cristo soou como uma esperança e até como uma realidade próxima.
O mundo foi despertado diante do alto clamor da proclamação do Evangelho Eterno.
Para cumprimento das profecias de Deus, esse grande despertamento religioso teria que ocorrer ao se completarem os 1260 anos de perseguição ao remanescente povo de Deus (538 a 1798 dC).
No tempo exato, ou seja, a partir de 1798 dC a história registra o surgimento das grandes sociedades bíblicas: Britânica (1804), Russa (1812), Alemã (1813), Americana (1816), a de Paris (1822), a de Basiléia na Suíça (1834) e a de Berlim (1845).
Quando o mundo foi provido da Palavra de Deus, abriu-se caminho para a proclamação final do Evangelho Eterno a toda a humanidade e em testemunho a todas as nações, conforme as palavras proféticas de nosso Senhor Jesus relatadas em Mateus 24,14.
Este seria um período de liberdade para que o Livro Sagrado fosse lido, estudado e divulgado.
E por último, estas belas palavras aos vencedores:
“A quem vencer, Eu o farei coluna no templo do Meu Deus, donde jamais sairá; e escreverei sobre ele o nome do Meu Deus; e o nome da cidade do Meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, da parte do Meu Deus, e também o Meu novo nome. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.” Apocalipse 3,12 e 13.
Estas promessas foram dirigidas a um povo sem mácula, abundante em amor fraternal e zeloso em sua vasta obra de evangelização.
Trata-se evidentemente de um povo fiel, dedicado e perseverante.
Todo aquele que deseja ser uma coluna viva no templo de Deus, tem o seu caráter moldado pelas poderosas mãos do Oleiro.
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