Mais do que uma Instituição humana e jurídica, a Igreja é um “Mistério”; é um complexo humano-divino. Assim como Jesus é homem e Deus, perfeitamente, a sua Igreja assemelha-se a Ele e é também humana e divina. Aí está o Mistério, que jamais poderemos compreender perfeitamente nesta vida. Mas é real.
Da mesma forma, reafirmamos que a COMUNIDADE ANUNCIA-ME mais que uma instituição humana e jurídica e é parte integrante deste mistério HUMANO = DIVINO.
O Capítulo I da “Lumen Gentium (A Luz dos Povos), a Constituição Dogmática do Concílio Vaticano II sobre a Igreja, trata desse Mistério. Começa dizendo que: “A Igreja é em Cristo como que o sacramento ou o sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano …” (LG, 1).
Ensina-nos o Concílio que Deus não quis salvar a humanidade, individualmente; mas quis “congregar na Santa Igreja os que creem em Cristo” (LG, 2).
É pelo Corpo de Cristo, a Igreja, que Deus Pai decretou salvar a humanidade.
Como batizados passamos a ser membro desse Corpo, e assim, Deus vai novamente reunindo a família humana que o pecado dispersou.
São Paulo, na carta aos Coríntios, explica bem essa realidade:“Porque, como o corpo é um todo tendo muitos membros, e todos os membros do corpo, embora muitos, formam um só corpo, assim também é Cristo. Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só corpo. Ora, vós sois o corpo de Cristo e cada um, de sua parte, é um dos seus membros” (1Cor 12,27).
Essa é uma maravilhosa realidade: somos o Corpo de Cristo.
Formamos esse Corpo místico (misterioso), humano-divino, que o Pai decidiu trazer de novo a família humana para o seu convívio, a fim de podermos participar, novamente, da sua vida bem-aventurada.
“Enxertados em Cristo” (Rom 11,17) pelo Batismo, participamos de Sua morte e ressurreição e nos tornamos Nele filhos adotivos de Deus e herdeiros da vida eterna.
Essa é a realidade salvífica da Igreja, “sacramento universal da salvação” (LG,48) e “mistério da união dos homens com Deus” (Catecismo nº 772).
É o grande mistério de Deus que desceu do Céu para entrar na nossa carne. Em Jesus, Deus encarnou-se, transformou-se homem como nós, e assim nos abriu o caminho para o seu Céu, para a comunhão plena com Ele. Encarnação deriva do latim “incarnatio”.
Santo Inácio de Antioquia – desde o primeiro século – e, sobretudo Santo Irineu usaram este termo refletindo sobre o Prólogo do Evangelho de São João, em particular sobre a expressão: “o Verbo se fez carne” (Jo 1, 14).
Aqui a palavra “carne”, segundo o uso hebraico, indica o homem na sua integralidade, todo o homem, mas propriamente sobre o aspecto da sua transitoriedade e temporalidade, da sua pobreza e contingência. Isto para nos dizer que a salvação trazida por Deus fazendo-se carne em Jesus de Nazaré toca nossa humanidade na nossa realidade concreta e em qualquer situação que nos encontramos.
Deus assumiu a condição humana para curá-la de tudo aquilo que a separa Dele, para permitir-nos chamá-lo, no seu Filho Unigênito, com o nome de “Abbá, Pai” e ser verdadeiramente filhos de Deus.
Santo Irineu afirma: “Este é o motivo pelo qual o Verbo se fez homem, e o Filho de Deus, Filho do homem: para que o homem, entrando em comunhão com o Verbo e recebendo assim a filiação divina, se transformasse filho de Deus” (Adversus haereses, 3,19,1: PG 7,939; cfr Catecismo da Igreja Católica, 460)”.
“O Verbo se fez carne” é uma daquelas verdades à qual nós estamos tão habituados que quase não nos afeta mais a grandeza do evento que essa exprime.
Nossa pertença a Comunidade Anuncia-Me, leva-nos a alegria de que, essa Obra nasceu neste anuncio do Anjo Gabriel a Maria, para se concretizar o Projeto de Deus.
É importante então recuperarmos o espanto diante do mistério, deixar-nos envolver pela grandeza deste evento: Deus, o verdadeiro Deus, Criador de tudo, percorreu como homem nossas estradas, entrando no tempo do homem para comunicar-nos a sua própria vida. E o fez não com o esplendor de um soberano, que sujeita o mundo ao seu poder, mas com a humildade de uma criança.Por isso, somos assim: Simples como Maria, gerando Jesus nos corações.
O mistério da Encarnação indica que Deus não doou qualquer coisa, mas doou a si mesmo no seu Filho Unigênito. Encontramos aqui então o modelo do nosso doar na Comunidade, para que as nossas relações, especialmente aquelas mais importantes, sejam guiadas pela gratuidade e pelo amor.
O Filho de Deus se fez verdadeiramente homem, nasceu da Virgem Maria, em um tempo e um lugar determinados, em Belém durante o reinado do imperador Augusto, sob o governador Quirino (Lc 2,1-2); cresceu em uma família, teve uns amigos, formou um grupo de discípulos, instruiu os apóstolos para continuarem a sua missão, terminou o curso de sua vida terrena na cruz.
Este modo de agir de Deus é um forte estímulo para nos interrogarmos sobre o realismo da nossa fé, na Comunidade, que não deve ser limitado à esfera do sentimento, das emoções, mas deve entrar no concreto da nossa existência, deve tocar, isso é, a nossa vida de cada dia e orientá-la também de modo prático.
Deus não parou nas palavras, mas nos indicou como viver, partilhando da nossa própria experiência, exceto no pecado. O Catecismo de São Pio X, nos indica, com a sua essencialidade, à questão: “Para viver segundo Deus, o que devemos fazer?”,e dá esta resposta: “Para viver segundo Deus devemos acreditar nas verdades reveladas por Ele e observar os seus mandamentos com a ajuda da sua graça, que se obtém mediante os sacramentos e orações”.
A nossa fé tem um aspecto fundamental que interessa não somente à mente e ao coração, mas à toda a nossa vida.
Somente em Jesus se manifesta plenamente o projeto de Deus em nossas vidas na Comunidade: Ele é o homem definitivo segundo Deus. O Concílio Vaticano II o reitera com força: “Na realidade, somente no mistério do Verbo encarnado encontra verdadeira luz o mistério do homem … Cristo, novo Adão, manifesta plenamente o homem ao homem e revela a eles a sua vocação” (Cost. Gaudium et spes, 22; Catecismo da Igreja Católica, 359).
Naquele menino, o Filho de Deus contemplado no Natal, podemos reconhecer a verdadeira face não somente de Deus, mas a verdadeira face do ser humano, a nossa face; e somente abrindo-nos à ação da sua graça e procurando a cada dia segui-Lo nós percebemos o projeto de Deus para nós, para cada um de nós na Comunidade Anuncia-Me. Nosso Carisma, envolve o mistério da encarnação.
Mas, como entender o mistério? Para uma correta compreensão do Carisma é importante termos uma noção do que seja o mistério.
Não se trata do mistério no sentido em que geral se compreende, como algo desconhecido, de secreto, que não pode ser compreendido, mas no sentido que a Bíblia, o entende. Claro que em qualquer mistério também continua presente o aspecto do oculto.
Mistério vem do verbo grego myo, que significa estar fechado, estar cerrado ou cerrar-se, mas sempre alguma coisa que pode ser aberta, que é feita para ser aberta como, por exemplo, a porta, a janela.
O mistério se realiza já no próprio Deus. Deus é mistério não só porque a razão humana não O pode compreender plenamente, mas também porque Deus é intercomunhão de vida e de amor trinitário. Deus é comunhão de vida e de amor.
Na a partir da Sagrada Escritura, sobretudo de São Paulo, mistério é o plano de Deus de fazer outros fora dele participar de sua vida, do seu amor, de sua felicidade e glória, plano este revelado e realizado em Jesus Cristo e em todos aqueles e aquelas que acolherem em Cristo este plano de Deus.
Enquanto este maravilhoso plano de Deus se realiza em Jesus Cristo, ele é chamado mistério de Cristo, e nós na Comunidade Anuncia-Me, estamos inseridos como parte real nesse plano e nesse mistério, o Ser Voz de Deus que não silencia.
O mistério realiza-se em nos, como pessoas humanas, nos encontramos no bem praticamos o bem um ao outro, doamo-nos um ao outro no amor.
Mas, o mistério realiza-se, sobretudo, através das mais variadas formas de nossa espiritualidade, missão e serviço.
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