No contexto do Novo Testamento, a nação judaica não era homogênea. Ao contrário disso, ela estava dividida em vários grupos e partidos com doutrinas, ideologias e tradições distintas, movidos ora por motivações políticas, ora religiosas.
Nesse sentido, saduceus, fariseus, essênios, zelotes e herodianos formavam os principais partidos políticos e seitas religiosas daquela época. Veremos as características desses grupos, e como Jesus, com sua sabedoria e coragem, conviveu e reagiu a eles, nos deixando o exemplo de como viver dentro de um ambiente de pluralismo religioso como o presenciado nos dias atuais, com respeito e defesa da verdade.
1. ROMANOS - DOMINADORES
2. HERODIANOS Os herodianos eram os defensores da dominação romana na Palestina. Estavam a serviço de Herodes e eram os mais ferrenhos perseguidores dos movimentos subversivos. Os evangelhos também os mencionam (Mc 3,6; 12,13; Mt 22,16). Tinham características de agremiação partidária, apoiando a dinastia dos Herodes, que deviam seu poder às forças romanas de ocupação. Os herodianos se opunham a Jesus por receio que Ele pudesse promover perturbações públicas por meio de seus ensinamentos morais. Eram movidos mais por interesses políticos do que religiosos, tanto que não tinham uma ortodoxia clara. Ainda hoje, alguns grupos religiosos são mais movidos por interesses políticos do que pelas convicções de fé. 3. PUBLICANOS E COBRADORES DE IMPOSTOS Os publicanos ou cobradores de imposto eram os coletores de tributos e taxas destinados ao Império Romano. Por essa razão, eram odiados pelo povo. Costumava-se dizer: “Só os publicanos são ladrões”. Podemos afirmar sem medo de errar que na época de Jesus a profissão de publicano era a pior. Eles eram comparados aos pecadores da pior espécie. Quando um judeu exercia esse triste ofício, e, sobretudo, quando cobrava de seus irmãos o imposto destinado a Roma, era tratado com enorme desprezo. Há várias passagens dos evangelhos nas quais os publicanos são equiparados aos pecadores: - Jesus comia com os publicanos e pecadores, por isso os discípulos foram questionados pelos fariseus (Mt 9,13); - Jesus foi acusado de ser um comilão e bebedor de vinho, além de amigo de publicanos e pecadores (Mt 11,19); - Jesus deixava os escribas e fariseus irritados ao vê-Lo na companhia dos pecadores e publicanos (Mc 2,16); - Os escribas e fariseus inconformados, murmuravam contra os discípulos de Jesus, perguntando por que eles comiam e bebiam na companhia dos publicanos e pecadores (Lc 5,30; 15,1-2); - Entre os doze discípulos, havia um ex-publicano (Mt 9,9). 4. SADUCEUS E SACERDOTES Os saduceus eram o partido religioso, econômico e político dominantes na época de Jesus. A ele pertenciam a maioria dos sacerdotes. Favoráveis à presença romana, eram materialistas e não acreditavam na ressurreição, nem nos anjos. Apesar da pequena quantidade, os saduceus representavam a aristocracia dominante do judaísmo nos tempos do Novo Testamento. O nome desse grupo originou-se provavelmente de Sadoc, o pai da linhagem de sumo sacerdotes durante o reinado de Salomão (1Rs 1,32.34.38. 45). Eles formavam o escalão superior dos sacerdotes e parte do Sinédrio, exercendo, por isso, grande influência política. Ao contrário dos fariseus, que reconheciam a importância da tradição oral, os saduceus aceitavam somente a Lei escrita (Torá). Por influência do helenismo- (Do grego hellenistes, partidário da língua ou dos costumes gregos. e da cultura pagã, era uma religião materialista e secularizada, que negava a existência do mundo espiritual (At 23,8) e não acreditava na ressurreição dos mortos (Mc 12,18) nem na vida futura. A vida para eles, portanto, se resumia ao aqui e agora, sobre a qual Deus não tinha nenhuma interferência. Quanto a esse grupo, Jesus disse aos seus discípulos para tomarem cuidado com o seu “fermento” (Mt 16,6), símbolo do mal e da corrupção. 5. FARISEUS E ESCRIBAS Os fariseus ou separados eram um partido leigo muito próximo ao povo. Eram admirados pelo povo mesmo que o desprezassem. Distinguiam-se pela intransigência e rígida observação da Lei, além de elevado nível moral. Acreditavam na Ressurreição, nos anjos e aguardavam o Messias. Em maior número que os saduceus, os fariseus (parash: “separar”) representavam o núcleo mais rígido do judaísmo, formado basicamente por pessoas da classe média e com grande influência entre o povo (Jo 12,42-43). Eram meticulosos quanto ao cumprimento da Lei mosaica e, por isso, a maioria dos escribas (Mt 15,1; 23,2) pertencia a esse grupo. Enfatizavam mais a tradição oral do que a literalidade da lei. Além de dar grande valor às tradições religiosas, como o lavar as mãos antes das refeições (Mc 7,3) e ao recolhimento do dízimo (Mt 23,23), os fariseus jejuavam regularmente (Mt 9,14) e enfatizavam a observância do sábado (Mt 12,1-8). Entretanto, eram avarentos (Lc 16,14) e, em suas orações, gostavam de se vangloriar de seus atributos morais (Lc 18,11-12). Em razão do seu legalismo, Jesus os repreendeu de forma corajosa (cf. Mt 23,1-32), chamando-os de amantes dos primeiros lugares, hipócritas e condutores cegos, pois a religiosidade deles estava baseada no exterior, nos rituais e na justiça própria, em desprezo à parte mais importante da Lei: o juízo, a misericórdia e a fé. Um dos exemplos era a invocação da tradição de Corbã (Mc 7,11) – (Oferta dedicada a Deus, num templo religioso, definida como algo a ser usado nesse templo, sendo que sua devolução, após doação, não pode ser efetuada) - como subterfúgio para não cuidar de seus pais na velhice, dizendo que seus bens haviam sido consagrados como oferta a Deus e ao Templo e, por isso, não poderiam ser utilizados. Jesus disse que eles haviam invalidado a lei pela tradição (Mc 7,13). Eis o motivo pelo qual Jesus declarou aos seus discípulos: “[...] se a vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no Reino dos céus” (Mt 5,20). 6. ESSÊNIOS Os essênios eram um grupo originalmente ligado ao clero de Jerusalém, mas que se afastou em protesto. Retiraram-se para o deserto a fim de encarnar uma vivência genuína da fé judaica, com vida comunitária intensa e cultivo da esperança messiânica. No tempo de Jesus, algumas pessoas queriam lutar contra os Romanos. Outros queriam viver com os Romanos. Os Essênios escolheram viver isolados, como resposta ao mundo “louco” que se apresentava no primeiro século. Eles formaram uma comunidade na costa noroeste do Mar Morto. Lá os Essênios achavam que poderiam viver como o “verdadeiro” povo de Deus. Eles rejeitavam Herodes, o Templo e os Fariseus. Em suas mentes, somente eles eram o verdadeiro Israel. E criaram uma comunidade pura, da qual sairia o Messias para redimir a Israel (na verdade acreditavam que Deus enviaria dois Messias, um sacerdote e o outro rei). Eles se intitulavam “os filhos da luz”, e seriam utilizados pelos Messias para restabelecer o reino de Israel. Os Evangelhos não mencionam os Essênios. Os Romanos destruíram a comunidade Essênia antes de partirem para Jerusalém. Muitos acreditam que foram os Essênios que escreveram os manuscritos do Mar Morto. Os Essênios eram conduzidos por sacerdotes Sadoquitas – descendentes de Sadoc - que deixaram o templo de Jerusalém corrompido. Eles salientaram rituais de pureza, compartilhavam todas as riquezas e viveram em comunidade. Eram bem rigorosos em suas interpretações dos mandamentos da Torá. Eles mantiveram uma perspectiva escatológica da vida, falaram do fim dos dias, das guerras, de Deus, da destruição final e do julgamento. Por causa dessa crença acerca do fim iminente, parte de seus membros escolheram o celibato, em vez de se casar e constituir família. Os Essênios não eram pacifistas, mas não pareciam ser violentos e não apoiavam os esforços revolucionários dos Zelotes. Como grupo, eles protestaram contra os Saduceus e sua gestão corrupta do Templo. Também se posicionavam contra os Fariseus por causa de suas tradições e abordagens inovadoras na interpretação da Torá. No ato da admissão à seita, todas as pessoas entregavam suas propriedades a um fundo que era igualmente disponível a todos. Banhavam-se antes das refeições e vestiam-se de branco. Além disso, consideravam a si mesmos “os filhos da luz”, e viviam completamente separados do judaísmo de Jerusalém, o qual consideravam apóstata. (Pessoa que renuncia ou renega uma crença ou religião da qual fazia parte) As práticas místicas dos essênios destoam dos ensinamentos de Jesus, que não impôs nenhum ritual de purificação, a não ser a purificação pela Palavra (Jo 13,10; 15,3). Além disso, os cristãos foram chamados para ser sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13-15), o que implica viver e influenciar a sociedade e a cultura, e não viver em reclusão. 7. BATISTAS – seguidores de João Batista. 8. ZELOTAS Os zelotas eram membros do partido judaico que se opunha à dominação romana por julgá-la incompatível com a soberania do Deus de Israel. Em períodos mais turbulentos apelavam à violência. Praticavam sequestros e assassinatos de opositores políticos. Os sicários – (Indivíduo que mata pessoas em troca de dinheiro; assassino ou matador) - eram uma ala dos zelotas e eram assim chamados porque carregavam um punhal escondido (Adaga) Eram um movimento subversivo caracterizado por violentos atentados. Os zelotes formavam um grupo extremista que usava a rebelião e a violência contra a dominação dos romanos, pois acreditavam que tal submissão era uma traição a Deus. Há quem sugira que o Senhor Jesus favoreceu os Zelotes e escolheu Simão, o Zelote (Lc 6,15), para expressar sua aprovação em relação às suas táticas. Nada poderia ser tão oposto à verdade, uma vez que todo ministério de Jesus era baseado em meios pacíficos e Simão provavelmente experimentou uma mudança de coração em relação a toda atividade dos Zelotes.
9. SAMARITANOS
Habitavam a Samaria - O significado de “samaritano” diz respeito aos habitantes da cidade de Samaria. Os samaritanos eram um povo mestiço, formado da mistura de israelitas com outros povos. O povo samaritano é citado na Bíblia desde o Antigo Testamento até o Novo Testamento, no tempo de Jesus. 10. A ORIGINALIDADE DE JESUS Como podemos observar, Jesus viveu dentro de um contexto de pluralidade religiosa, com a existência de diversas teologias e concepções sobre Deus e espiritualidade. Embora respeitasse a crença de cada grupo e tivesse dialogado com muitos deles (Lc 7,36), ele não deixou de apontar os seus erros e de lhes falar a verdade. Jesus não se apresentou como mais uma opção religiosa entre tantas, mas como o próprio Filho de Deus (Jo 6,57), afirmando a sua exclusividade ao dizer: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14,6). Nos dias atuais, como discípulos de Jesus, devemos respeitar as demais confissões religiosas, sem perder o senso crítico e a coragem de dizer o que convém à sã doutrina (Tt 2,1). Precisamos estar preparados (cf. 1Pd 3,15) para confrontar toda religião que fuja dos princípios bíblicos, seja por legalismo, misticismo ou mundanismo, enfatizando a superioridade de Cristo, o autor e consumador da nossa fé (cf. Hb 12,2) e o fundamento da verdadeira espiritualidade. O TEMPLO DE JERUSALÉM O templo de Jerusalém foi edificado três vezes. O primeiro edifício foi obra de Salomão, seguindo um projeto do rei Davi e utilizando toneladas de ouro, prata, pedras preciosas e mão-de- obra de artífices de fino gosto. O segundo e modesto prédio foi construído após o exílio, nos dias do profeta Ageu, quando Zorobabel era o governador. Os anciãos choraram face à desigualdade de condições. Por fim, para ganhar a simpatia dos judeus, Herodes, o Grande, governador idumeu imposto pelos romanos, remodelou templo. Foi esse prédio que deixou boquiaberto o discípulo de Jesus (Mc 13,1). 1. O PRIMEIRO TEMPLO O primeiro templo de Israel foi construído pelo seu rei Salomão no cume do monte Moriá (2Cr 3,1), tradicionalmente conhecido como o monte onde Abraão havia oferecido e quase sacrificado seu filho Isaq como oferta ao Senhor (cf. Gn 22,2). Foi solenemente inaugurado por Salomão em aproximadamente 950 a.C. (1Rs 7 e 8), mas destruído completamente até os alicerces em 586 a.C. por Nebuzardã, chefe da guarda e servidor do rei Nabucodonozor da Babilônia (cf. 2Rs 25,8-17, 2Cr 36,17-21). 2. O SEGUNDO TEMPLO O segundo templo foi construído por Zorobabel, descendente de Davi e neto piedoso do ímpio rei Jeconias (ou Joaquim) de Judá. As obras foram iniciadas em 525 a.C. por ordem de Ciro, rei da Pérsia (cf. Esd 1,2-4), sobre o local onde fora construído o templo de Salomão (cf. Esd 2,68), ficando o edifício pronto em 516 a.C., quando foi consagrado ao Senhor (cf. Esd 6,15). No decorrer do tempo ele foi dilapidado pela ação dos inimigos e parcialmente arruinado por falta de manutenção.
3. REFORMAS DO 2º TEMPLO
Quase cinco séculos depois, o rei Herodes, idumeu, - (relativo a Idumeia (região da Palestina) ou o que é seu natural ou habitante- nomeado pelos romanos, restaurou o templo a fim de agradar o povo judeu. Ele iniciou as obras de restauração em 18 a.C. desenvolvendo um projeto altamente pretensioso e dispendioso, em uma escala muito maior do que o templo original.
O edifício principal foi terminado em dez anos, mas Herodes e seus sucessores ampliaram muito a área circundante com aterros, muros de pedra e edificações, e a restauração só foi considerada como concluída 83 anos mais tarde, no ano 65 d.C.
Passados apenas cinco anos depois de terminado, o templo e as outras construções no monte foram totalmente destruídas pelos romanos, junto com a cidade de Jerusalém. Os muros foram em grande parte danificados no tempo das cruzadas. Restou uma parte conhecida como o “Muro das Lamentações”, onde os judeus costumam fazer as suas preces, já há muito tempo, sendo hoje também uma atração turística.
Sobre os escombros do Templo está, hoje, construída a Mesquita de Omar.
3. O TEMPLO, CENTRO DA VIDA JUDAICA
Na verdade, o Templo, além de centro religioso, era referência política e cultural, econômica e social do judaísmo. Flávio Josefo descreve-o assim: “O exterior arrebatava os olhos e o espírito.
Por estar recoberto de ouro, refletia desde o amanhecer a luz do sol tão intensamente, que obrigava a afastar a vista aos que queriam observá-lo.
Aos estrangeiros que chegavam parecia uma montanha de neve, pois onde não estava coberto de ouro brilhava mármore branquíssimo. O cimo estava eriçado de pontas de ouro afiadas para impedir que as aves pousassem e sujassem o teto. Algumas das pedras da construção tinham vinte metros de comprimento...” eis porque causava tanta admiração aos forasteiros e peregrinos quando se aproximavam de Jerusalém e viam o Templo. Logo, dá para entender o fascínio dos discípulos ante tal magnificência.
O Templo era visto como a morada de Deus na terra. Representava estabilidade, segurança, perenidade. O que Jesus faz ver é que o Templo passa. Deus é que permanece, independentemente do Templo.
Agarrar-se ao que passa, por mais importante que seja, é um equívoco.
Só Deus permanece e só Deus basta. Fundamentar a religião e a fé no relativo passageiro é relativizar o absoluto derradeiro. Na interpretação de Jesus, segundo os Evangelhos, nisso consistiu a derrocada do judaísmo oficial.
A questão é sempre atual. Em que e onde firmamos as balizas e os fundamentos de nosso amor e religião, de nossa Igreja e fé?
4. OS IMPOSTOS NO TEMPO DE JESUS
Olhemos a parte narrativa da controvérsia de Jesus com os fariseus por causa do imposto.
Trata-se do Evangelho de Mt 22,15-21.
DOIS TIPOS DE IMPOSTOS:
No tempo de Jesus, a questão era ainda mais injusta e cruel. Existiam dois sistemas de impostos (dos romanos e do templo), ambos com três tributos. ERAM QUATRO AS MOEDAS CORRENTES EM VIGOR, A SABER: O DENÁRIO (ROMANO); O SICLO (JUDEU); DRACMA (GREGO); E A MINAS (FENÍCIA).
O imposto romano:
a) Denário, por pessoa, controlado através de recenseamentos;
b) Produtivo, taxa sobre ¼ da produção agrícola;
c) Circulatório, sobre as mercadorias em circulação. (ICMS?)
O imposto do templo constava de:
a) dracma, também por pessoa
b) primícias de colheitas, animais e até filhos (estes resgatados por animais ou aves);
c) dízimo de toda produção.
A CONTROVÉRSIA SOBRE O IMPOSTO AO IMPÉRIO
Contextualizemos a questão. Os fariseus eram contra o pagamento do imposto ao império, ao passo que os herodianos, como os saduceus, eram a favor. Mt 22,15-22...
A pergunta dos fariseus (que levaram os adversários políticos herodianos ...) é capciosa: se Jesus se manifestasse a favor do imposto, perderia as credenciais de defensor da gente espoliada e sofrida, para ser considerado traidor do povo; caso fosse contra, seria acusado de atentar ao poderoso império.
Mais que capciosa, aqui a pergunta é uma armadilha que Jesus logo percebe (v. 18).
Aliás, as autoridades farisaicas, ainda que mal intencionadas, fazem grande elogio a Jesus: reconhecem-no Mestre, consideram-no verdadeiro no ensinar, correto no julgar e autêntico no agir (v. 16). Jesus, sabiamente os chama de hipócritas (v. 18) e prova que o são.
Como? Era proibida a moeda e a imagem estranhas no templo. As autoridades, porém, tinham substituído a inflacionada moeda nacional pelo valorizado dinheiro pagão, também no templo.
Além disso, Jesus coloca tanto a ideologia/teologia quanto a política/economia no devido lugar. Tanto o trabalho religioso quanto o operar político devem estar a serviço da pessoa e à prioridade da vida.
Estamos diante de duas imagens, ambas reconhecidas, mas não no mesmo nível: a imagem de César na moeda e a imagem da Deus na pessoa.
Deus vem antes de César e a pessoa tem primazia sobre a moeda. Assim a dúvida se desfaz e a hipocrisia é desmascarada. Se o que é de César (a moeda), deve ir a César o que é de Deus (a pessoa) deve ser de Deus.
Sob a ótica e o ensinamento do Mestre, justifica-se o imposto quando ele é revertido em benefício da pessoa. Portanto, a fé genuína, também para nosso tempo e em nosso país, oferece critérios precisos e preciosos para a política econômica e social.
5. UMA CARICATURA DO TEMPLO QUE FOI PERVERTIDO
Como é que o Templo Santo e Fiel se tornou empresa injusta e cruel?
Expressemo-lo mediante hipotético diálogo (em forma de arremedo satírico) entre um representante da Instituição e um devoto peregrino que acaba sendo explorado pela “máquina do poder”.
a) Moeda e taxa de câmbio
- Eu e minha família viemos à Cidade Santa para cumprir a Lei, pagar o dízimo e fazer nossa oferta.
- Qual moeda vocês trouxeram?
- Ora, o denário de Israel.
- Ah, vocês terão que trocar este dinheiro inflacionado.
Isso aqui é indigno de Deus. Aqui no (banco do) Templo nós encontramos uma solução.
Vamos fazer o seguinte: vocês trocam a moeda inflacionada por uma de valor, atípica (O mesmo que: diversa, rara.) - Naturalmente, vocês terão que pagar uma “taxa” de câmbio. Mas, Deus merece isso, não merece?
- Claro que sim!
b) A melhor oferta
- Gostaríamos, também, de fazer nossa oferta. Qual o melhor lugar para comprar o novilho?
- Há muitos vendedores por aí. Mas imagino que vocês queiram fazer
uma oferta pura, não é?
- Com certeza!
- Pois então vou lhes explicar. Nós, sob a qualificada orientação dos Sacerdotes, criamos gado especial para as oferendas. Trata-se de gado puro, sem defeito para nosso Deus Perfeito.
- É justo, o Nosso Senhor merece o melhor!
- Ótimo! Só tem um detalhe. Nossas fazendas tem selo de qualidade, o que torna a rês mais cara...
- É compreensível, sim!
- Vocês pagam “algo” mais e Deus ficará contente.
- Pois não!
c) Espaço para armar a tenda
- Tem mais: queremos aproveitar bem a festa e precisaremos ficar alguns dias em Jerusalém. Mas está difícil encontrar pousada e os lugares disponíveis para armar a tenda são perigosos.
- Não se preocupe! Nós já nos ocupamos disso. Ali, no pátio do Templo, tem lugar. Naturalmente, vocês pagarão “um pouco mais caro”, mas o lugar é seguro e sagrado, pois nossos guardas garantem a segurança.
- Valeu, irmão! Assim dá pra cumprir melhor os preceitos.
d) Jesus, Templo novo e critério perene Por isso Jesus desautoriza o Templo e o substitui. Ele mesmo é o Novo Templo e critério para a genuína oferta a Deus. As instituições em geral e as Igrejas em particular tem nEle referência para o ser e agir. O que entra em desacordo com Ele desqualifica-se como obra de Deus. - Jesus, Templo definitivo: “Destruí este Templo e em três dias eu o reedificarei” (Jo. 2,19). - Discípulos, novos templos: “Se alguém me ama, guardará minha palavra e meu Pai o amará e a ele viremos e nele estabeleceremos morada” (Jo. 14,23).
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