Uma parábola em certo modo bastante atual, a do administrador infiel (Lc. 16, 1 ss).
A personagem central é o administrador de um proprietário de terras, figura muito popular também em nossos campos, quando regiam sistemas usufrutuários. Como as melhores parábolas, esta é como um drama em miniatura, cheio de movimento e de mudanças de cena.
A primeira tem como atores o administrador e seu senhor e conclui com uma dispensa taxativa: "Já não podes ser administrador". Este não esboça sequer uma autodefesa. Tem a consciência suja e sabe perfeitamente que o que o patrão ficou sabendo é certo.
A segunda cena é do administrador que acaba de ficar só. Não se dá por vencido; pensa em seguida em soluções para garantir um futuro.
A terceira cena o administrador e os camponeses revela a fraude que idealizou com esse fim: "Tu, quanto deves?" Ele respondeu "Cem sacos de trigo". O administrador disse: "Pega a tua conta e escreve: oitenta".
Um caso clássico de corrupção e de falsa contabilidade que nos faz pensar em frequentes episódios parecidos em nossa sociedade, ainda que em uma escala muito maior.
A conclusão é desconcertante: O senhor elogiou o administrador desonesto, e agiu com esperteza. Será que prova ou estimula a corrupção?
É necessário recordar a natureza totalmente especial do ensinamento nas parábolas. A parábola não deve ser trasladada em bloco e com todos seus detalhes ao plano do ensinamento moral, mas só naquele aspecto que o narrador quer valorizar.
E está claro qual é a ideia que Jesus quis incutir com esta parábola. O senhor elogia o administrador por sua sagacidade, não por outra coisa. Não se afirma que volta atrás em sua decisão de despedir este homem. E mais ainda, visto seu rigor inicial e a prontidão com a qual descobriu a nova estafa, podemos imaginar facilmente a continuação, não relatada, da história.
Após ter elogiado o administrador por sua astúcia, o senhor deve ter-lhe ordenado que devolvesse imediatamente o fruto de suas transações desonestas, ou pagá-las com a prisão se não pudesse saldar a dívida. Isso, ou seja, a astúcia é também o que Jesus elogia, fora de parábolas. Acrescenta, de fato, quase como comentário às palavras desse senhor: "Os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios que os filhos da luz".
Aquele homem, frente a uma situação de emergência, quando estava em jogo seu porvir, deu prova de duas coisas: de extrema decisão e de grande astúcia.
Atuou pronta e inteligentemente (ainda que não honestamente) para salvar-se. Isso Jesus vem dizer a seus discípulos, é o que deveis fazer também vós para pôr a salvo não o futuro terreno, que dura alguns anos, mas o futuro eterno.
A vida, dizia um filósofo antigo, não é dada a ninguém em propriedade, mas a todos em administração (Sêneca). Todos nós somos administradores por isso, devemos fazer como o homem da parábola. Ele não deixou as coisas para amanhã, não dormiu.
Está em jogo algo mais importante que não pode ser confiado à sorte. O Evangelho com frequência faz diversas aplicações práticas desse ensinamento de Cristo. Aquele no qual se insiste mais tem a ver com o uso da riqueza e do dinheiro: "Eu vos digo: usai o 'dinheiro', embora iniquo, para fazer amigos. Quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas".
É como dizer: fazei como aquele administrador; fazei-vos amigos daqueles que um dia, quando vos encontreis em necessidade, possam acolher-vos. Esses amigos poderosos, sabemos, são os pobres, já que Cristo considera dado a Ele em pessoa o que se dá ao pobre.
Os pobres, dizia Santo Agostinho, são, de certa forma, nossos correios e transportadores: eles nos permitem transferir, desde agora, nossos bens na morada que se está construindo para nós no céu.
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