Os relatos da ressurreição tem alguns traços em comum: a iniciativa é sempre do Ressuscitado e nunca das testemunhas; -o processo de reconhecimento se dá por parte dos discípulos a partir de uma palavra proferida ou de um gesto realizado pelo mesmo Ressuscitado (partir o pio, pronunciar o nome, dar de comer e fazer com que a pesca fracassada se transforme em super abundancia de peixes e alimentos a aparição termina sempre em direção à missão que os faz testemunhas.
A ressurreição é, portanto, uma experiência da dupla identidade na contradição:
1-O Ressuscitado é o Crucificado. Aquele que eles viram derrotado e morto é o mesmo que veem agora, glorioso e triunfante.
2- Os fracos e medrosos discípulos são as intrépidas e corajosas testemunhas da Páscoa que irão por todo o mundo anunciar o que viram e ouviram. Por que a existência dos discípulos muda tanto com a experiência do encontro com o Ressuscitado? Porque a Páscoa é intervenção, em Jesus de Nazaré, do Deus de Abraão, Isaac e Jacó com poder, segundo o Espirito de Santidade. Aquele Deus que libertou o povo de Israel do Egito e o conduziu pelo deserto, firmando uma aliança com Ele, é o Deus que Jesus Cristo chama de Pai e que agora, depois da morte, se revela e se manifesta plenamente, mostrando que seu Espirito é o único capaz de dar a vida ali onde a morte parecia ter ganho a disputa.
A Pascoa é história de toda a humanidade que desde sempre luta para buscar luz sobre seu destino contraditório (ser feito para a vida e ter que morrer, não pedir para nascer e não desejar morrer; sofrer por estar vivo e ter pavor do vazio e do desconhecido da morte).
Deus mesmo, entrando na história da humanidade, mostra qual é o sentido último desta história e faz então com que a Páscoa, além da história humana, seja história trinitária de Deus.
O evento de ressurreição é todo ele marcado pelos escritos do Novo Testamento com traços trinitários: O Pai toma posição sobre o Crucificado, declarando-o Senhor e Cristo (At. 2,36) ou seja, reconhecendo e levando os seres humanos a reconhecer no passado do Nazareno a história do Filho de Deus; no presente, a história do vivente que vence a morte; no futuro a história do Senhor que voltara na glória.
Na ressurreição, Deus se revela e oferece como p Pai do Filho encarnado, morto, ressuscitado e que virá. Se oferece como o Pai de misericórdia que diz SIM ao Filho crucificado e, nEle, diz o sim definitivamente libertador a todos os escravos do pecado da morte.
A ressurreição é sim definitivo que o Deus de Abraão, Isaac e Jacó, diz ao seu povo, firmando para sempre uma aliança que jamais será revogada. O quarto Evangelho coloca na boca de Jesus as seguintes palavras: "Destruí este templo em três dias eu o reconstruirei... Mas ele falava do templo do seu corpo" (Jo. 2, 19-21).
O fato de que a comunidade cristã registre estas palavras, colocando-as na boca de Jesus pré-pascal, mostra que a revelação vivida pela comunidade implica a fé no fato de que o Filho também participa ativamente no evento de sua Ressurreição, do qual o Pai tem a soberana iniciativa.
Portanto a proclamação "Jesus ressuscitou. Jesus vive e é o Senhor!" é sempre para a Glória de Deus Pai" (Fil. 2, 11). A ressurreição de Cristo, por outro lado, não é somente uma recepção passiva, mas é também uma tomada ativa de posição sobre sua história e a história dos homens e mulheres de todos os tempos e povos. A Vida vence a morte!
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