O processo gradual de mudança no modo de sentir e de viver, pelo qual a humanidade passa desde há séculos, atingiu seu auge no mundo atual. As mudanças por ele provocadas são tão radicais, não é possível “sequer vislumbrar sua direção nem o que pode daí decorrer”.
O pecado inserido nas festas tão degradantes, trata-se de um fenômeno impalpável, sutil, penetrante como se fosse uma poderosa e temível radioatividade”, cuja gradação dificulta ver a profundidade das transformações por ele causadas. Fruto deste processo, ora célere, ora vagaroso, é a crise moral sem precedentes que abarca todas as atividades humanas em nossa época, levando os homens a se afundarem cada vez mais em um neo paganismo que parece tirar-lhes a esperança.
É interessante analisar o Salmo 32 por este prisma, que pode ser considerado como um hino paradigmático à onipotência e à justiça de Deus. Ele canta o senhorio do Altíssimo e sua fidelidade ao povo eleito, mas mostra também como é Ele quem governa o curso dos acontecimentos ao longo dos tempos: “O Senhor desfaz os planos das nações pagãs, reduz a nada os projetos dos povos. Só os desígnios do Senhor permanecem eternamente e os pensamentos de seu coração por todas as gerações” (Sl 32, 10-11).
A perspectiva do salmista se estende à surda luta entre o bem e o mal na História. Toda a trama bíblica gira em torno de um drama que é a batalha entre aqueles que representam os interesses de Deus e se empenham em plasmar seus desígnios na História e, de outro lado, os que se opõem a essa marcha religiosa da História.
Tais são os dias em que vivemos!
Nesta hora terrível em que o espírito do mal busca todos os meios para destruir o Reino de Deus, devemos pôr em ação todas as energias para defendê-lo. Um duro combate contra os poderes das trevas atravessa, com efeito, toda a História humana; começou no princípio do mundo e, segundo a palavra do Senhor (cf. Mt 24, 13; 13, 24-30.36-43), durará até ao último dia”.
Bem se aplicam aos dias presentes as palavras que teriam sido pronunciadas pelo Cardeal Wojtyla em 1976, dois anos antes de ascender ao Sólio Pontifício: “Estamos agora perante a maior confrontação histórica presenciada pela humanidade. […] Deparamo-nos com o embate final entre a Igreja e a anti-Igreja, o Evangelho e o antievangelho”.
Em outros termos, “enquanto este mundo durar, a História será sempre teatro do conflito entre Deus e satanás, entre o bem e o mal, entre a graça e o pecado, entre a vida e a morte”.
Com enérgicas palavras alertava Bento XVI o Colégio Cardinalício a respeito de uma perigosa tática dos inimigos da Igreja: a de usar a máscara do bem, para atacá-la. Diz ele: “Hoje, a expressão Ecclesia militans está um pouco fora de moda, mas na realidade podemos compreender cada vez melhor que é verdadeira, contém em si mesma a verdade. Vemos como o mal quer dominar no mundo e que é necessário travar uma luta contra o mal. Vemos como o faz de muitos modos cruentos, com diversas formas de violência, mas também com a máscara do bem e, precisamente assim, destruindo os fundamentos morais da sociedade”.
Afirmar que “o mal quer dominar no mundo” equivale a reconhecer que a obra de satanás visa conquistar todo o orbe. E age muitas vezes de maneira dissimulada para alcançar com maior facilidade seu objetivo de dessacralizar a sociedade humana, atingindo as sagradas portas da vida da Igreja, quando não o seu interior. Numerosíssimos fiéis perderam o senso vivo de uma verdade de Fé: Um aspecto essencial da vida cristã é seu desenvolvimento concreto como uma luta contínua contra satanás e seus seguidores. Esquece-se hoje de que a vida do católico é “um dramático e incessante combate não apenas contra o mal abstrato e impessoal, nem só contra nossas paixões e más tendências, senão, em última análise, contra o maligno e seus sequazes”.
O Discípulo Amado menciona explicitamente esta militância em sua primeira epístola: “Eis por que o Filho de Deus Se manifestou: para destruir as obras do demônio” (I Jo 3, 8).
E o Cardeal Ratzinger, pouco antes de receber o ministério petrino, declarava que “a Igreja existe para exorcizar o avanço do inferno sobre a terra, e torná-la habitável pela luz de Deus”, para desta maneira se efetivar o pedido expresso na Oração “Venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa vontade assim na terra como no Céu”.
A grande maioria dos homens se deixa arrastar pelos prazeres pecaminosos, pelos vícios. Criou-se um silêncio a respeito do contínuo avanço do mal. Os bons se amedrontam. “Como crescem juntos no campo evangélico o joio e o bom trigo, assim na História […] encontram-se, lado a lado, por vezes profundamente emaranhados entre si, o mal e o bem, a injustiça e a justiça, a angústia e a esperança”.
O bem está em fragilidade.
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